Faxineira foi alvo de racismo e a queixa foi oficializada como injúria. Secretaria de Direitos Humanos trabalha para evitar erros nos registros
Do G1 Rio
Pessoas vítimas de racismo dizem que encontram dificuldade para registrar esse tipo de crime nas delegacias do Rio. Como mostrou o Bom Dia Brasil desta sexta-feira (2), uma faxineira, que quis ser identificada somente como Fabiana, foi prestar queixa na polícia depois de sofrer preconceito racial durante um trabalho em uma cobertura na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.
“Ela olhou para mim e falou que não iria pagar porque era uma honra para mim estar trabalhando pra ela, que era branca. E eu era só uma negra”, relatou.
Fabiana disse que chegou a pedir somente o dinheiro da passagem de ônibus para voltar para casa e mostrou no celular as mensagens ofensivas recebidas pela patroa. Em uma delas, a mulher chama a casa de Fabiana de barraco e o filho dela de crioulinho. “Eu me senti humilhada, ofendida, machucada, banalizada. Estou muito traumatizada com tudo”, disse.
Ao fazer registro na delegacia, outra decepção. Segundo ela, a queixa foi enquadrada como injúria, apesar das evidentes características de que o ato se tratava de preconceito racial. Fabiana procurou o presidente da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que foi até a delegacia. Ele mostrou o primeiro registro feito, que não tinha o relato da vítima e só mostrava a informação de que ela havia sido injuriada.
De acordo com advogado Marcelo Dias, só depois o caso passou a ser tratado por injúria racial, quando alguém é ofendido por causa da cor e raça. Mas, para ele, Fabiana foi vítima de um crime mais grave e inafiançável: o racismo.
“O racismo está claro, ela trabalhou, não recebeu e a lei diz claramente que se você tem um tratamento diferenciado no trabalho, se você recebe menos pela sua cor, ou se você deixa de receber o que caracteriza como trabalho de semi escravidão, isso é racismo e não foi registrado como racismo na delegacia”, explicou.
Força-tarefa nas delegacias
No Rio, a Secretaria de Direitos Humanos criou uma força tarefa para tentar estabelecer uma rotina de conduta nas delegacias. O trabalho será feito em parceria com a Polícia Civil e com o apoio da OAB. Um grupo de delegados vai orientar os profissionais que fazem os registros para evitar falhas nas notificações e para que os casos de racismo sejam tratados como tal.
Nos anos de 2012 e 2013 foram recebidas cerca de 700 denúncias de racismo em todo o país. No Rio, foram registrados três casos de racismo em janeiro deste ano, contra os 163 de injúria racial.