Mais um capítulo da violência contra os direitos dos povos indígenas é fato no Brasil. O Povo Ka’apor da Terra Indígena Alto Turiaçu, noroeste maranhense, não consegue mais viver em paz. Em menos de 40 dias após Gonito Ka’apor, da Aldeia Gurupiúna, ter sido amarrado e espancado perante sua esposa e demais familiares, os Ka’apor sofrem novamente ameaças e perseguições por madeireiros da região de Zé Doca. Nestes últimos três dias, um grupo de cerca de quinze indígenas prenderam tratores dentro do território que realizavam serviços de corte e derrubada ilegal de madeira no interior da terra indígena.
O grupo continua na região realizando monitoramento e vigilância da área e pedindo ajuda aos órgãos fiscalizadores e policiais para fazerem os procedimentos legais. Com o descaso dos órgãos governamentais, os próprios indígenas resolveram realizar sucessivas incursões no limite do território para resguardar seus bens naturais, que os garante vida no território. Essas sucessivas agressões têm interferido diretamente na dinâmica cultural do povo.
No último dia 26 de agosto de 2013, um grupo de 50 pessoas organizadas, incitadas por madeireiros da região do município de Centro Novo do Maranhão, Centro do Guilherme e Governador Nunes Freire (Encruzo), invadiram uma aldeia como retaliação à operação de fiscalização, realizada por Exercito e Ibama, que fechou e apreendeu equipamentos de serrarias e multou agressores. A conivência e participação dos executivos municipais tornam esses agressores reincidentes em seus atos de violência contra o patrimônio ambiental na região.
Ações resultantes do descaso, omissão e abandono do Estado Brasileiro e do Maranhão com as Políticas Sociais. As sucessivas operações de fiscalizações de órgãos do governo não têm tido efeitos satisfatórios no resguardo dos bens naturais e vida dos povos que dependem da floresta para continuarem vivendo. Os agressores (madeireiros, fazendeiros, posseiros, caçadores) são mais ousados, articulados e eficientes em seus planos no sentido de driblar as equipes de fiscalizações e continuarem cometendo crimes ambientais e sociais contra pessoas e a biodiversidade da última área de reserva florestal da Amazônia Oriental sem que sejam punidos.
Indígenas resolveram por conta própria agir e defender seu território, mesmo que fiquem expostos às agressões e violências; ainda que sejam proibidos de circularem nas estradas e ramais que os levam à cidade. A cada dia são surpreendidos com novas agressões, sejam físicas ou ambientais. Afirmam que não conseguem mais dormir sossegados, pois é intenso o barulho de moto-serra, caminhões e tratores às proximidades das aldeias. Situação que mudou a rotina de animais e pessoas no território.
Uma das lideranças, que está ameaçada de morte por madeireiros da região de Zé Doca, afirma que não podem ficar presos em sua própria casa; que os brancos não podem impedir de viverem dentro de sua própria casa, que é a floresta.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Jsm Andrade.