A efeméride é uma mão na roda para nós, jornalistas. Na falta de pauta (não sei como, mas vá lá), é só consultar o oráculo na internet para ver o que há no cardápio. Daí descobre-se que, além da independência de Belize e da morte de Schopenhauer, também é Dia da Árvore.
Daí, ligo a TV e vejo matérias e mais matérias de pessoas plantando mudinhas, crianças fazendo desenhos com lápis verde, famílias abraçando árvores.
OK, a educação ambiental é tudo. Mas me tira do sério adotar a efeméride para cumprir tabela jornalística, quando sabemos que determinados editores barram sistematicamente a questão ambiental de seus noticiários por considerarem que é “discurso contra o desenvolvimento”, “interesse de gringos” ou “coisa de hippie”. Tenho um comichão quando vejo que populações indígenas e quilombolas, cuja qualidade de vida está diretamente atrelada à proteção ambiental, têm menos espaço em alguns veículos do que uma criança de apartamento plantando seu Ipê em uma praça de São Paulo num sábado de sol.
Sei que todos têm um milhão de outras preocupações para resolver no dia a dia. Mas se dedicassem o mesmo tempo que usam para se vestir de preto e fazer cara feia em piadas prontas, distribuir memes pela internet ou ficarem em infrutíferos debates desqualificados em redes sociais para tentar se informar e acompanhar como o meio ambiente está sendo rifado nos parlamentos e por governos em nome do “progresso”, visando a facilitar o crescimento econômico violento, coisas como os retrocessos do novo Código Florestal não teriam sido aprovados.
É mais barato comprarmos uma indulgência ambiental em forma de mudinha feliz ou de saco plástico biodegradável do que mexer o traseiro e agir para mudar o comportamento consumista que está levando o mundo para o buraco. Ou melhor, para o forno.
Afinal de contas, o que é mudar o comportamento individual? Basta fazer aquelas coisas mínimas para deixar consciência menos pesada? Claro que não. Da mesma forma que há empresas caras-de-pau que acham que é possível fazer responsabilidade social e mudar o impacto que causam na sociedade sem gastar dinheiro, há pessoas que acham que dá para mudar o mundo não alterando seu padrão de consumo, comprando as mesmas coisas de sempre e transferindo sua felicidade para a maquininha do cartão de crédito.
Olhando o cenário e vendo a quantidade de gente que se importa mais com “parecer” do que “ser” sustentável, professando o mais cruel cada um por si e o sobrenatural por todos, não deixo de dar certa razão – apesar de discordar – para uma amiga que pergunta sempre: e vale a pena tentar construir um futuro para esse mundo que está aí?