A solidão da guarda

Texto e fotos por Helio Mello do Projeto Xingu para os Jornalistas Livres

Pensar um homem idoso e uma menina, sozinhos na aldeia, na defesa da terra de seu povo é algo épico e cinematográfico nos dias de hoje, mas é a cena pura numa manhã vazia de sábado numa metrópole sul americana. O que dizer diante do fato ao pé da grande montanha do Jaraguá e sua floresta insólita? Isso tudo às margens da grande mancha urbana envolvente e da rodovia Anhanguera, Bandeirantes, Rodoanel.

Nos passos ligeiros do adversário, e nesse jogo a camisa do time varia muito; ora é empreiteira ou construtora, ora é líder do tráfico, ora é político escaldado na senha humanista de antigos movimentos partidários, mas nem tanto humanitário diante da feroz especulação imobiliária de São Paulo no tempo presente.

Ser índio no Brasil não é para iniciantes, tampouco é esotérico ou romântico.

O fato é que a terra era do índio sempre, sua roça, seus remédios, sua ideia de pensar o mundo. Concessões foram feitas a outros porque tudo parecia terra sem dono, e a outorga ou usura sempre foram palavras gratas na cultura da lei tupiniquim.

Foto: Hélio Mello
Foto: Hélio Mello

Os índios Guarani e suas aldeias remanescentes na cidade de São Paulo , são eles uma etnia amante da andança pelo mundo e tomam as relações entre os parentes como uma brincadeira que vale a pena, índios que desenvolveram o referencial cultural na busca da terra sem males, mas sabem há tempos que a terra é puro conflito.

Meu pensamento voa diante de disputas entre um sábio cacique e um velho político alinhado. Um grito ecoa entre o cacique Ari Karaí e o ex-deputado constituinte Tito Costa, testemunha viva dos grandes movimentos dos anos 70 e 80 no ABC.

barraco Foto Helio Mello

Hoje a pendenga é a posse e uso da terra e liminares e recursos infinitos na disputa de direitos.

De um lado vemos um território, a aldeia Itakupe (atrás da pedra), usados há décadas por populações originárias, terras essas que em 2015 é o último reduto de roça de avaxi ete’i (milho), mandio (mandioca), takua re’ê (cana) e manduvi (amendoim).

De outro lado a posse antiga de Antônio Tito Costa, 93 anos, advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex-deputado constituinte, sem título ou escritura da terra apresentada aos juízes envolvidos na causa.

Mais do que dez ou dez milhões, velhos homens se envolvem nas leis e direitos, e nesse mundo rolo-compressor vamos morrendo afogados em nós mesmos.

Foto Helio Mello
Foto: Hélio Mello

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