BA – Território quilombola Porto do Campo tem relatório técnico publicado

Incra

Uma comunidade que ultrapassa o limite da terra e se insere no mar. Assim é o território quilombola de Porto do Campo, situado numa ilha, que teve o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) publicado, nesta quinta-feira (26), no Diário Oficial da União (DOU).

No Porto do Campo, que se situa no município de Camamu, no território de identidade do Baixo Sul da Bahia, vivem 48 famílias remanescentes de quilombos, numa área de 220,9 hectares.

O relatório do Porto do Campo é o segundo publicado pelo Incra, neste ano, no estado. O primeiro foi o do Território Quilombola Fôjo, que fica em Itacaré, no Litoral Sul. O Porto do Campo é o vigésimo quarto, desde o início do Programa Brasil Quilombola.

O RTID representa o fim de uma etapa complexa que objetiva a titulação coletiva do território. O documento reúne estudos antropológicos, históricos, mapas descritivos que reconhecem a ocupação ancestral dessas famílias no território.

O mar e a terra
A forma mais comum de se chegar à comunidade Porto do Campo é por barco, uma travessia que demora aproximadamente uma hora. As famílias são agricultoras, extrativistas, mas, sobretudo, pescadoras e marisqueiras. Eles pescam camarões, tainha, sardinha, entre outros peixes, e mariscam siris, lambretas, caranguejos e sururus.

De acordo com o relatório antropológico, a pesca artesanal ocupa boa parte do tempo de trabalho dos homens da comunidade. “Um tempo que depende da lua, da maré… existe uma dependência dos ciclos das águas… um ritmo que é imposto pelas cadências das marés…”, relata o texto.

Os quilombolas do Porto do Campo também praticam o extrativismo do dendê e fabricam o azeite-de-dendê. As famílias comercializam os produtos na feira de Camamu, para onde levam principalmente, os pescados, azeite-de-dendê, coco e banana.

História
A ocupação do território é anterior a 1880, segundo o relatório. “O Porto de Camamu foi um dos portos onde mais desembarcaram humanos que foram escravizados nas américas”, informa o analista em Reforma e Desenvolvimento Agrário, Itamar Rangel Vieira Junior, do Serviço de Regularização de Territórios Quilombolas do Incra/BA.

Vieira menciona ainda sobre uma narrativa das famílias do Porto do Campo que relata sobre um fazendeiro em declínio que queria escapar da ilha e o barco estava furado. “Eles relatam que o fazendeiro colocou um escravo no furo do barco que, logicamente, morreu para que ele conseguisse fazer a travessia.

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