Manifesto da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência: “SBPC repudia invasão e agressão à CTNBio”

Via link em negrito, texto cita matéria publicada em agosto de 2014, que afirma: “Conforme dados da FuturaGene, o aumento da produtividade do eucalipto transgênico oferece diversos benefícios ao meio ambiente. Isso porque a produtividade maior exige menos terra cultivada, o que implica redução de insumos, de água e de liberação de carbono, por exemplo. Além disso, terras disponíveis podem ser direcionadas a outros fins, como a prevenção ambiental, e o plantio sustentável e renovável pode reduzir a pressão para extração de madeiras das florestas naturais”. (Tania Pacheco)

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“Em manifesto entidade afirma que ato representa uma ameaça ao estado de direito

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) considera inaceitável e repudia veementemente a invasão ocorrida ontem (dia 5) na reunião da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em Brasília. Mais ainda, os atos de agressão e ameaças contra os pesquisadores que analisavam processos em andamento, inclusive de nova modalidade de eucalipto transgênico, ferem o estado de direito e representam a expressão mais atrasada de posicionamentos baseados em ideologias políticas ao arrepio do conhecimento científico.

Ao mesmo tempo mulheres ligadas ao mesmo movimento invadiram e depredaram instalações da empresa FuturaGene, em Itapetininga (SP), destruindo plantas e equipamentos que representam mais de 14 anos de pesquisa da modalidade transgênica de eucalipto. Entendemos que esse também foi um ato inadmissível contra o qual protestamos.

A SBPC conclama o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) a tomar todas as medidas cabíveis para garantir a integridade física e moral dos pesquisadores membros do CTNBio, de modo que possam dar continuidade ao trabalho de extrema relevância para o desenvolvimento científico e tecnológico do País. Entendemos que debates e posicionamentos contrários a quaisquer projetos são válidos e necessários, porém quando se chega ao ponto de empregar atos de vandalismo como argumento, rompe-se o diálogo, tornando-se imperativo reestabelecer a convivência e o respeito mútuo.

Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

Comments (3)

  1. Tânia, também tenho especial apreço pelo seu blog. Entendo que a avaliação de risco pode ser um pouco desafiadora para quem não é da área, mas escrevemos um texto em linguagem simples que pode ajudar aos que não tem um extenso conhecimento de biologia, ecologia, genética, etc. O texto tem um resumo de como se faz uma avaliação de risco e também um exemplo prático, no caso o do eucalipto.

    Uma leitura atenta pode resultar em dívidas sobre a existência dos tais riscos graves que estão anunciados na internet. E isso já seria o início de uma tomada de posição crítica, baseada em ciência. Abaixo segue o link:
    http://genpeace.blogspot.com.br/2015/02/avaliacao-de-risco-do-eucalipto.html

    Quanto a haver discordâncias de opinião, isso sempre haverá, mesmo na CTNBio, que é um fórum científico. A gente tem que conviver com isso e as decisões são tomadas por maioria, como em qualquer fórum científico onde se tenha que chegar a um veredito. Os que são minoria podem discordar, mas não estão certos em afirmar que os demais tenham tomado uma posição contrária porque são incautos ou vendidos a multinacionais. Não é nada disso: os membros são todos pesquisadores e professores, em geral funcionários públicos extremamente dedicados à causa do ensino e da pesquisa. Eles também são cuidadosos, mas empregam um sistema de avaliação de riscos (este que está comentado acima) que permite a tomada de decisões mesmo quando ainda há alguma incerteza. Atacar os colegas é uma forma injuriosa de proceder e não ajuda em nada nas discussões e na busca de um consenso. Caberia aos que são minoria, isto sim, uma reflexão profunda do porque certos argumentos que lhes são caros serem rechaçados pela maioria, o mesmo acontecendo com artigos científicos e determinadas teorias e procedimentos.

    De toda forma, o convívio com opiniões contrárias é sempre difícil, mais ainda entre acadêmicos, que tendem a ser muito vaidosos, e ainda pior com o tempero do viés econômico. Ainda bem que a CTNBio só avalia riscos (e só os biológicos) e não tem que opinar sobre o difícil balanço dos prós- e contras, que é coisa que cabe ao Conselho Nacional de Biossegurança.

    Saudações pernambucanas.

  2. Paulo,
    valorizo a forma tranquila e respeitosa que você utiliza para expor seus pontos de vista. Sei que você é professor da UFPE, trabalha com Genética e tudo o mais.
    Ao contrário, meus conhecimentos nesse campo são mais que limitados. Entretanto, também conheço e li trabalhos de pessoas da sua área e que têm posicionamento contrário ao seu.
    Assim sendo, respeito suas posições e sempre faço questão de ler seus comentários. Mas não acho que vamos concordar a respeito desse assunto.
    Tudo de bom!
    Tania.

  3. Tânia, ainda que a gente possa compreender que as invasões fazem parte de um ativismo mais agressivo e que podem, em muitos casos, ser justificadas, e ainda que se possa de forma geral simpatizar e até apoiar um movimento que luta por uma distribuição mais justa de terras, isso não valida automaticamente qualquer ação das entidades que levam esta bandeira. No caso específico do MST e sua oposição aos transgênicos, o que se vê é uma extrapolação grave de sua missão original, que era lutar pela melhor distribuição de terras. Ser contra os transgênicos sem ser contra absolutamente todo o agronegócio é absurdo e vender a luta contra os transgênicos como se fosse a mais refinada forma de luta contra o modelo do agronegócio é vender uma farsa. Aqui o Movimento abraça a questão do capital estrangeiro, sem pensar que os beneficiados pela tecnologia somos todos nós. É inútil adentrar nesta discussão, porque o viés ideológico é potente e dispersa qualquer tentativa de ser razoável.

    Especificamente quanto ao eucalipto, a CTNBio fez uma avaliação de risco muitíssimo cuidadosa. Os pareceres finais e o consolidado atestam que cada perigo, por mais improvável que fosse, foi considerado e o risco associado a ele foi estimado. É assim que funciona, não basta dizer que vai acontecer A ou B, tem que haver uma base cientifica e técnica para isso. No caso do consumo de água, para que você possa se posicionar, é preciso entender que a maior parte da água que chega a uma plantação (a menos que seja por gotejamento) vai para o subsolo. Nas áreas típicas de plantio de eucalipto há uma precipitação de 1500 mm anuais, o que significa dizer que para cada m2 de solo são despejados 1milhão e meio de litros d´água. A maioria desce para o subsolo e recarrega o freático e uma pequena porção será retida pelo eucalipto. É provável que esta porção aumente um pouco, provavelmente bem menos do que o ganho de crescimento, então o resultado final da dinâmica da água será pouco diferente. Afirmar que o eucalipto vai beber toda a água que chegar ou que estas novas variedades serão responsáveis pela seca dos mananciais é absurdo: o que seca mananciais é o desflorestamento ou o uso muito intensivo das áreas, independente do que se plante (ou não se plante lá). Minha experiência com assentamentos, por exemplo, é de que a forma como ocupam o solo das áreas conquistadas, depois de muita luta, leva rapidamente à degradação e à seca de todos os mananciais. Pode haver exceções, é claro, mas eu não as conheço.

    Concluo lembrando que toda forma de agricultura é agressiva ao ambiente (nclusive a feita com enxada), mas sem ela morreremos de fome ou não teremos nossos produtos do dia a dia. A gente não come eucalipto, mas é absurdo cortar a planta por causa disso: todos n[os dependemos de papel para um sem fim de coisas e, no duro, a celulose entra até nos alimentos, mas isso é outra história.

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