Em Nota, a CPT Minas Gerais repudia as várias formas de expulsões das comunidades de seus territórios tradicionais e, consequentemente, a destruição de seus modos de vida e a violação de seus direitos. Confira o documento na íntegra:
Há décadas a Susano Papel e Celulose e outras empresas vêm explorando área de chapada (Cerrado) para plantio de eucalipto, tais áreas há centenas de anos já eram utilizadas por comunidades quilombolas do município de Virgem da Lapa, no Vale do Jequitinhonha (MG). Os empreendimentos capitalistas (monocultivos de eucalipto) chegam com sua concepção autoritária de desenvolvimento e tem se apropriado dos territórios das comunidades e, consequentemente, tomado suas terras, principalmente, as chapadas de uso comum, desestruturando as condições materiais e imateriais de existência das comunidades tradicionais e/ou reestruturando-as a partir de outros “valores” trazidos pelos empreendedores, que negam a identidade cultural destes povos. Em muitos casos, devido ao fato dessas populações não terem o título das terras que ocupam, estas foram griladas por fazendeiros e empresas.
Esta estratégia de tomar terras de uso comum das comunidades ainda persiste. Atualmente existe um processo na justiça, movido pelo fazendeiro Tarcísio Fernando Felix, contra comunidades tradicionais de Virgem da Lapa, pedindo a reintegração de posse de uma área que faz parte de território tradicional que há muitos anos é usado pelas comunidades para extrativismo e solta de gado. O latifundiário quer dobrar sua área, atualmente de 475 hectares para mais 800 hectares, justificando revisão territorial, e para isso está entrando no território das comunidades quilombolas Capim Puba e Almas. As Comunidades Quilombolas clamam por justiça e pela garantia de seus direitos territoriais.
No dia 24 de fevereiro, a CPT Minas Gerais se reuniu com representantes das comunidades quilombolas Onça de Cima e Capim Puba, a EMATER, a Secretaria Municipal de Agricultura e a vereadora Adriana, todos de Virgem da Lapa, para discutir sobre possíveis soluções para que as famílias tenham seus direitos territoriais respeitados.
Depois da reunião, a Comissão Pastoral da Terra, juntamente com representantes das comunidades Capim Puba e Almas (Mauro e Kerlane), visitaram as respectivas comunidades, para conhecer e entender melhor as ameaças que vem sofrendo. A principal fonte de renda dessas famílias vem do extrativismo e de cultivo de culturas anuais. Com a expansão da monocultura do eucalipto, que já destruiu grande parte do bioma cerrado da região, muitas famílias foram obrigadas a migrar e as que resistiram estão ameaçadas.
Diante disso, a CPT Minas Gerais repudia as várias formas de expropriação dos territórios tradicionais das comunidades e, consequentemente, a destruição de seus modos de vida e a violação de seus direitos. Também denunciamos a destruição do Cerrado no Vale, que além de tirar o território das comunidades quilombolas, vem causando grandes impactos ambientais e diminuindo a biodiversidade regional.