Por Lou-Ann Kleppa e Luis Fernando Novoa Garzon, em Rio Madeira Já
Está rodando na TV aberta uma campanha da Santo Antônio Energia. A primeira peça publicitária foi exibida em meados de novembro. Uma moça anuncia um livro chamado “Peixes do Madeira”, patrocinado pela Santo Antônio Energia, em que são catalogados todos os peixes encontrados no rio Madeira antes da construção da hidrelétrica. A moça diz que o livro foi lançado “há pouco”.
Fomos ao site da Santo Antônio Energia e conferimos que os 3 volumes foram publicados em 2013. Pois é: 2014 está quase acabando e o livro foi lançado “há pouco”. O deslocamento não é só temporal, mas também é ético: uma usina hidrelétrica financia um estudo para inventariar todos os peixes que havia no rio antes de exterminá-los. Entendemos o livro como uma tentativa de empalhar um exemplar de cada espécie nova, rara, desconhecida e de uso comercial antes da implantação da barragem.
Catalogar a diversidade biológica – sabendo que a vida de todos os animais catalogados está ameaçada por quem paga o estudo – é fazer ciência?
A segunda peça publicitária é sobre o pirarucu de cativeiro criado no Reassentamento Santa Rita (responsabilidade da Santo Antônio Energia). A mesma moça anuncia euforicamente que agora há mais pirarucu em cativeiro que no rio Madeira. Isso é monocultura, homogeneização da vida. O que aconteceu com a biodiversidade celebrada em “peixes do Madeira?”
Desde 2012 os pescadores perceberam que o peixe que estavam acostumados a pescar sumiu. Tiveram que pescar mais longe, tiveram que pescar outros peixes. Com a cheia de 2014, pela qual as usinas são co-responsáveis, o ecossistema foi drasticamente transformado. Com a cheia, todos os lagos-refúgio em que havia alevinos (peixes jovens) foram transformados em rio de lama.
Os locais de desova foram desfigurados. Os ribeirinhos anunciam agora uma grande crise do peixe nos rios.
Enquanto isso, Rondônia se transforma no maior produtor de peixes em cativeiro com a ajuda da ciência e tecnologia. Essa ciência, que aceita compromisso com uma empresa, não se interessa pelo ciclo da vida, mas pela geração de lucro. Lamentável a participação da UNIR nesse crime ambiental sem precedentes.