Durante o debate Mesa de Controvérsias sobre Terra e Território, promovido hoje (4) pelo Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), o integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Gilmar Mauro, defendeu que a reforma agrária no país deve ser pensada de acordo com um novo modelo que dê ênfase à agroecologia e à sustentabilidade ambiental.
“Temos que discutir que tipo de uso queremos dar à água, ao solo e ao conjunto dos recursos naturais. Se for esse uso que está sendo dado, não precisa mais de reforma agrária. É evidente que esse tipo de uso tem impactos econômicos, sociais e ambientais gravíssimos e alguns irreversíveis. Pensar que tipo de comida queremos comer. Se quisermos outro tipo de comida, mais saudável, com produção que não agrida e não impacte tanto o meio ambiente, a reforma agrária é importante”, disse.
Mauro ainda cita uma mudança no paradigma tecnológico a ser seguido. “Se for a maquinaria pesada e agroquímicos cada vez mais intensos, temos que ter clareza de que isso impacta na saúde humana e do planeta”, conclui.
Segundo o integrante do MST, o governo tem papel fundamental em criar condições para uma mudança de paradigma que siga o caminho agroecológico por meio do incentivo à abertura de mercados, de indústrias para processar esses produtos e para a produção de insumos agroecológicos que substituam os insumos químicos tradicionais.
O professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Bernardo Mançano Fernandes, falou sobre as disputas de terra entre os movimentos socioterritoriais e o setor do agronegócio e disse que isso tem impactado as políticas de reforma agrária. “Esses movimentos socioterritoriais cresceram muito, mais até que os movimentos urbanos e sindicais. Eles estão lutando por sua existência e precisam multiplicar esse território e, ao mesmo tempo, o agronegócio precisa multiplicar seu território, ai, temos esse conflito permanente”, concluiu.
O indígena da etnia Guarani-Kaiowá e conselheiro do Consea, Silvio Ortiz, disse que a disputa pela terra também tem provocado conflitos envolvendo índios. Para ele, as ações emergenciais não são suficientes para resolver a questão da terra com os indígenas. “Não adianta o governo mandar ações emergenciais se não resolver a questão da ampliação de terra. Isso nos preocupa muito e, como consequência disso, vemos violência e agravamento dos problemas”, relatou ele que vive na região das aldeias Jaguapiru e Bororó em Dourados (MS).
Edição: Fábio Massalli.