A cidade de Dourados registrou este ano 23 assassina-tos contra indígenas e 107 casos de agressão. Os números são do Conselho Distrital de Saúde Indígena com base nos atendimentos dos postos de Saúde na Reserva. De acordo com o coordenador da entidade, o indígena Fernando de Souza, os números são preocupantes porque já se aproximam do total de casos do ano passado (36).
Em relação aos números de agressão, a aldeia Jaguapiru registrou 60 casos, já a Bororó 42. São notificações classificadas como “causas externas” divididas entre situações de suicídio, estupros e espancamentos.
De acordo com Fernando, hoje a aldeia passa por situação de crise. Segundo ele, em 100% dos casos, os envolvidos são de famílias desestruturadas. Este fatos também influencia no uso de drogas e a bebida alcoólica.
“Nossos indígenas hoje enfrentam diariamente o confinamento de dividirem espaço de 3,6 hectares com 13 mil indígenas. A violência está em todos os lugares e pouco se faz para mudar esta realidade. Falta expectativa de vida dos nossos jovens e cair no mundo do crime é uma das alternativas mais fáceis infelizmente”, lamenta.
Fernando diz que estes casos de uso de drogas, mortes e violência acabam gerando outros problemas como a superlotação na Saúde pública, a evasão escolar, entre outros. “Nos-sos governantes deveriam ter um olhar especial para a nossa aldeia, construindo mais salas de aula, incenti-vando os cursos profissionalizantes, num modelo é claro, que respeite a cultura e tradição dos nossos povos. Hoje muitos pensam que investir na aldeia é atribuição somente da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), o que não é verdade. O município e Estado recebem investimentos com base na renda per cápita da população e nossos indígenas estão integrados nesta conta”, destaca.
Mortes no Estado
Dados de entidades ligadas a questão indigenistas mostram que o Estado tem figurado como o mais violento do país há mais de uma década. Nos últimos 11 anos, os levantamentos mostram que pelo menos 616 indígenas foram assassinados no país, sendo que 349 destas mortes ocorreram no Mato Grosso do Sul, onde o relatório aponta que a maioria das comunidades vive em situação de extrema precariedade.
Conforme o relatório a maioria das moradias são em acampamentos improvisados nas margens das rodovias.
A Reserva Indígena de Dourados é apontada como a de maior densidade populacional entre todas as comunidades tradicionais do país, abrigando mais de 13 mil indígenas em 3,6 hectares de terra. Nela aconteceram 18 dos 73 casos de suicídio no Estado em 2013.
No ano passado o país registrou que pelo menos 53 índios foram assassinados em consequências de conflitos, diretos ou indiretos, pela disputa de terras. Desse total 33 vítimas de assassinatos (62% do total no país) foram registrados somente em Mato Grosso do Sul, sendo 31 entre indígenas do povo Guarani-Kaiowá e dois casos do povo Terena.