Cerca de 2500 mil pessoas entre indígenas, diversas Entidades de apoio, estudantes, simpatizantes da causa indígenas e políticos participaram da XIV Caminhada dos Mártires Tupinambá, realizada neste domingo 28/09/2014. Que este ano inverteu a ordem da caminhada a pedido dos anciãos Tupinambá, saindo da Praia do Cururupe e encerrando as manifestações em frente à Igreja de Nossa senhora da Escada em Olivença.
Animados e alimentados pelo exemplo de seus antepassados na luta pela garantia de suas terras, o povo Tupinambá de Olivença realizou pelo décimo quarto ano consecutivo a sua Caminhada dos Mártires visando combater o que eles chamam de “massacre dos dias atuais”, que se caracteriza principalmente pela omissão do Governo Federal na regularização do seu território e na falta de políticas públicas o que favorece a violência e o preconceito contra os Tupinambá, um intenso processo de criminalização das suas lutas e ate mesmo assassinato constantes de indígenas.
Os Tupinambá afirmam que a não assinatura da Portaria Declaratória pelo Ministro da Justiça José Eduardo Cardoso (Há dois anos nas mãos do Ministro quando o prazo legal é de 30 dias) emperra que outros encaminhamentos relativos à regularização do seu território avancem e este impasse está criando um clima desfavorável contra os Indígenas, bem como, prejudicando os pequenos agricultores envolvidos na disputa.
Em uma carta aberta distribuída pelos Tupinambá eles afirmam que a Caminhada dos Mártires é uma celebração a resistência do povo e momento de relembrar a caminhada histórica quando foram perseguidos e massacrados: quando do ataque do Governador Geral Men de Sá, deixando 06 quilômetros de corpos de seus antepassados estendidos nas praias do sul, ou então da famosa Batalha dos Nadadores onde indígenas eram friamente assassinados dentro do mar e mais recentemente as perseguições, as calunias e assassinato de sua liderança o Caboclo Marcelino que ousou lutar em defesa dos direitos de seu povo. Afirmam também que nos dias de hoje não tem sido diferente, suas lideranças sofrem prisões injustas, suas comunidades são caluniadas e agredidas, e, sobretudo seus direitos são desrespeitados, muitos indígenas tem sido assassinados durante estes últimos anos. Mas terminam a carta reafirmando que mesmo diante de todas as perseguições, respeitando a luta de seus antepassados e as suas lutas, gritam alto para que todos ouçam: ESTA TERRA TEM DONO, ESTA TERRA É DOS TUPINAMBÁ.
Dona Nivalda a mãe da cacique Jamopoty pela primeira vez não se fez presente fisicamente na caminhada, mas queríamos trazer para a mesma as suas palavras:
“Para o nosso povo mais do que lembrar este terrível massacre, queremos na verdade é as nossas terras de volta, pois elas nos pertencem, muitos já morreram e sofreram perseguições pela defesa deste lugar sagrado. Este chão está regado de sangue de nosso povo, temos aqui raízes seculares que os brancos não conseguiram arrancar, foram semeadas sementes de esperanças que estão perto de florescer, que nossas crianças com certeza colherão os frutos da luta e resistência de nossos antepassados. E dirão para seus netos e bisnetos: Valeu, vale e sempre valerá lutar pelo nosso chão sagrado, pela nossa mãe terra”.
As atividades que se iniciaram na Praia do Cururupe com um intenso ritual do Porancim se encerraram em frente à Igreja Nossa Senhora da Escada com pronunciamentos dos diversos caciques e anciãos Tupinambá e em seguida o Bispo Diocesano de Ilhéus, Dom Mauro Montagnoli, presente na caminhada conduziu uma celebração de encerramento quando na oportunidade as lideranças Tupinambá lhe entregaram uma carta pedido apoio da CNBB para a sua luta.
Itabuna, 28 de setembro de 2014
Conselho Indigenista Missionário