Suspeito de matar líder de acampamento de sem-terra continua foragido no Pará

Mais uma morte registrada no Sudeste do Pará devido a confitos agrários (Foto: CPT)
Mais uma morte registrada no Sudeste do Pará devido a conflitos agrários (Foto: CPT)

Elaíze Farias – Amazônia Real

A Delegacia de Conflitos Agrários (Deca) de Marabá, no sudeste do Pará, continua fazendo buscas para localizar o principal suspeito de atirar contra o trabalhador rural Jair Cleber dos Santos, líder de um acampamento de sem-terra, morto na fazenda Gaúcha, em Bom Jesus do Tocantins, na segunda-feira (22). Uma das quatro pessoas feridas a tiros no conflito continua internada em estado grave no hospital da região.

O advogado Arnaldo Ramos, que defende o acusado pelo crime Reginaldo Aparecido Augusto, conhecido como Neném, disse à agência Amazônia Real que o suspeito se entregaria nesta quarta-feira (24), fato não confirmado pelo delegado Alexandre do Nascimento Silva.

“Até o momento ele não compareceu na delegacia. Temos informação de que ele estaria escondido em algumas fazendas da região ou com alguns parentes em Marabá. Estamos à procura dele”, disse o delegado Nascimento.

O funcionário da fazenda André Santos de Sousa, conhecido como Neguinho, continua detido na delegacia de Marabá como suspeito de envolvimento no crime.

Segundo as investigações, Jair Cleber dos Santos foi atingido por disparos de arma de fogo quando as famílias de sem-terra tentavam convencer o gerente da fazenda Reginaldo Aparecido Augusto a autorizar a entrada de um trator para obras de pavimentação de uma estrada no acampamento. Há seis anos 300 famílias ocupam a fazenda reivindicando a reforma agrária. Leia reportagem publicada aqui.

Conforme o delegado de Marabá, Jair Cleber dos Santos, de 50 anos, foi atingido com um tiro no abdômen.  Aguinaldo Ribeiro Queiroz foi atingido na região tórax.  Casado e pai de dois filhos (um deles com dois meses de idade), o corpo e Santos foi enterrado nesta quarta-feira (24) em um cemitério da rodovia que liga Marabá ao município de Itupiranga, também no sudeste do Pará.

Também nesta quarta-feira, 12 pessoas prestaram depoimento sobre o conflito na delegacia. Oito delas fazem parte das famílias de sem-terra. O restante das testemunhas são funcionários da fazenda, segundo a polícia.

Mateus Sousa Oliveira, que também foi ferido durante o conflito, foi um dos que prestaram depoimento nesta quarta-feira, disse o delegado Nascimento.

Ele afirmou à reportagem que Mateus estava internado, mas conseguiu dar o depoimento. “As informações que ele deu foram basicamente iguais as de outras pessoas. Que os tiros foram disparados quando as famílias chegaram na fazenda e gritaram para que o Reginaldo saísse. O Reginaldo gritou de volta, dizendo que não sairia. Quando o Reginaldo decidiu sair pelas portas dos fundos da casa ele se deparou com alguns sem terra do lado de fora. Foi ali que ele começou a efetuar os disparos”, disse o delegado.

O presidente da Federação dos Agricultores da Agricultura do Pará (Fetragri), Francisco de Assis Soledade, disse à Amazônia Real que morte de Santos causou revolta nas famílias sem-terra e que muitas pessoas estão preparando uma mobilização para exigir a prisão do principal suspeito. “Os trabalhadores querem uma resposta concreta sobre isso”, disse Soledade.

O acampamento dos sem terra, chamado de Nova Esperança, fica localizado dentro da fazenda Gaúcha, a 10 quilômetros do município de Bom Jesus do Tocantins, no sudeste do Pará. Bom Jesus fica a 70 quilômetros de Marabá.

“A fazenda está 100% ocupada há sete anos pelas famílias. Das coisas daquele que se diz dono da fazenda há penas algumas cabeças de gado. É uma ocupação que a gente chama de acampamento. As famílias já produzem muita coisa. Ano passado, produziram 10 mil sacas de farinha, que são comercializadas nas cidades vizinhas”, disse Soledade.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) divulgou nota em seu site onde diz que manifesta “sua indignação, revolta, tristeza e pesar por mais um crime envolvendo trabalhadores (as) rurais”.

“Com mais esse caso, a Contag reforça que a impunidade e fragilidade do Estado em solucionar definitivamente os problemas causadores dos conflitos agrários, como a grilagem e a concentração fundiária, estimula o crescimento da onda de violência praticada contra os trabalhadores e as trabalhadoras rurais”, diz trecho da nota.

A reportagem da Amazônia Real tentou contato várias vezes com o advogado que representa a fazenda Gaúcha, Arnaldo Ramos, e que responde pela defesa de Reginaldo Aparecido Augusto e André Santos de Sousa, mas este não atendeu as ligações.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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