Na últimas semanas, duas mulheres morreram após passarem por procedimentos de aborto no Rio de Janeiro; A feminista Luka Franca, destaca a importância do debate, embora meios de comunicação de massa sempre tratem o tema “sobre a ótica da culpabilização da mulher”
Por Bruno Pavan, da Redação Brasil de Fato
Diversas manifestações devem acontecer neste domingo (28) pelo Brasil para marcar o Dia Latino-Americano de Luta pela Descriminalização do Aborto. A data foi escolhida durante o V Encontro Feminista Latino-americano, em 1990, para aumentar a discussão sobre o tema no continente.
Organizados pela Frente contra a Criminalização de Mulheres e pela Legalização do Aborto, que envolve diversos movimentos, os protestos ocorrem semanas após as mortes de Jandira Magdalena e Elizângela Barbosa que fizeram abortos em clínicas clandestinas no Rio de Janeiro (RJ).
A militante feminista Luka Franca reforça a importância de casos como esses não caírem no esquecimento para que não haja criminalização das mulheres e de servir como um alerta para a importância de se debater o assunto.
“A importância dos casos não caírem no esquecimento é a mesma do que quando houve estouro de clínica no Mato Grosso do Sul em 2007 e várias mulheres foram criminalizadas pelo Ministério Público Estadual. Temos que desvelar que este é um problema grave e que leva a morte milhares de mulheres todos os anos no Brasil – o aborto já é a quinta causa de morte materna no País -, além dos mais de 200 mil casos de abortos inseguros que acabam em internações [hospitalares] por complicação”, explicou.
Neste ano, os protestos acontecerão a uma semana das eleições o que, para Luka, os torna ainda mais importante. Ela reforça que nos últimos anos o debate sobre o aborto tem crescido tanto no âmbito moralista, quanto no progressista, mas crítica a postura da imprensa sobre o tema.
“O movimento faz atividade de rua todo ano neste dia. É uma forma de lembrar que há mulheres morrendo e não há solução real apresentada pelos governos. Quando é tempo de eleição é ainda mais importante, pois podemos forçar o debate junto às organizações políticas. Acho que há espaço aumentando para os valores mais conservadores no debate e também para os mais progressistas. A grande questão é que o acesso da população ao tema é muito pelos meios de comunicação de massa que sempre tratam o tema sobre a ótica da culpabilização da mulher”, analisou.
O ato em São Paulo está marcado para ter início às 12 horas, na Praça do Ciclista, centro da capital. O “Cortejo da Mulher Morta em Aborto Clandestino” terá confecção de cartazes a apresentações artísticas. A partir das 14 horas, ele caminhará pela Avenida Paulista. Eventos também acontecerão no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre.