A quantidade de água que chega hoje à represa é quase quatro vezes menor do que a liberada para atender a população
Márcia Maria Cruz, Estado de Minas
A seca da nascente do Rio São Francisco põe em situação de alerta o reservatório de Três Marias. Com a vazão afluente de 37 metros cúbicos por segundo, o volume de água recebido é um dos menores no período de seca, segundo séries históricas dos últimos 80 anos. Em outras palavras, a água que chega à represa é muito menor do que a quantidade fornecida à população, à indústria e à irrigação, o que pode fazer com que a Cemig feche parcialmente as comportas e libere menos líquido para captação.
A quantidade de água que chega hoje à represa é quase quatro vezes menor do que a liberada, cerca de 160 metros cúbicos por segundo. Em acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), a Cemig vem adotando medidas estratégicas para que o volume útil não chegue a próximo de zero em novembro. Atualmente, esse percentual é de 5,58% – o menor se comparado às quatro principais represas do estado (Camargos, Nova Ponte, Irapé e Furnas ). O volume útil é a quantidade para além do mínimo necessário para a geração de energia elétrica. A situação só não é pior do que a de Ilha Solteira, no Triângulo, que já usa 54% do volume morto.
Mesmo se chover o esperado neste mês e nos dois próximos não será suficiente para recompor as bacias hidrográficas e os reservatórios. “Se o período chuvoso for dentro do previsto, não significa que o nível dos reservatórios voltará ao normal, porque o déficit de precipitação, nos últimos meses, é muito grande”, afirma a diretora de pesquisa, desenvolvimento e monitoramento das águas do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), Ana Carolina Miranda.
A situação da represa de Camargos, no Rio Grande, também é preocupante, com volume útil de 7,41%. Já em Nova Ponte, no Rio Araguari, é de 18%. A situação mais tranquila é da represa de Irapé, no Rio Jequitinhonha, com 43,5%. Esse nível se deve às chuvas de dezembro na região. Ainda assim, a vazão afluente corresponde a 21% da média histórica, com a entrada de apenas 8 metros cúbicos por segundo. De acordo com o gerente de planejamento energético, Marcelo de Deus, a orientação é preservar a água para que o volume útil não atinja 0%. “É reduzir o que vai ser liberado para que a água dure até a chuva chegar.”
Outras bacias
Assim como na Bacia do Rio São Francisco, a escassez de água também pode ser medida pelo baixo nível dos rios de outras bacias. Em Cataguases, o Paraíba do Sul está em 71 centímetros, quando o normal seria 113. Na Bacia do Rio Doce, o desnível ocorre em seis municípios: Colatina (de 78 cm para 32cm), Governador Valadares (de 174 cm para 112cm), Cachoeira dos Óculos (de 167 cm para 133cm), Ponte Nova (de 97cm para 65cm) e Ubaporanga (de 55 cm para 24). A seca levou 116 municípios a decretar situação de emergência, segundo a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil.
A previsão de chuva para três grandes regiões do estado não são animadoras, de acordo com o IGAM. De 800 a 1,2 mil milímetros na Região Central, entre outubro e março do ano que vem. No Campos da Vertentes e Vale do Paraíba, acima de 1,2 mil milímetros, e 800 milímetros na Região Nordeste.
O coordenador do Projeto Manuelzão Marcus Vinícius Polignano não vê a curto prazo nenhuma medida que possa minorar a situação da Bacia do Rio São Francisco. Ele defende a gestão integrada dos recursos hídricos do Velho Chico e dos afluentes, como ocorre na Bacia do Rio das Velhas. “Com a escassez de água, da nascente à foz, temos um rio morrendo. Temos sinais de agonia na represa de Três Marias.”
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ruben Siqueira.