Isabela Vieira – Repórter da Agência Brasil
Os moradores da Vila Autódromo voltaram a cobrar hoje (24) que a prefeitura do Rio de Janeiro apresente projetos de mobilidade e urbanização na área. A comunidade, na zona oeste, quer executar o Plano Popular da Vila Autódromo, elaborado pelos moradores em parcerias com especialistas de universidades federais e que, recentemente, ganhou R$ 192 mil como prêmio do banco alemão Deutsche Bank. Sem conhecer o projeto do Poder Público, a comunidade não pode executar o próprio plano, que prevê, por exemplo, a construção de uma creche.
Para protestar, os moradores serviram café da manhã para os operários que chegavam para trabalhar no Parque Olímpico – área que receberá as instalações para competições em 2016 e o centro de mídia – e para motoristas que transitavam na Avenida Abelardo Bueno. Uma das pistas no sentido Linha Amarela chegou a ser fechada. A comunidade serviu cafezinho, sucos, pão com queijo e presunto também aos motoristas, que contribuíram com dinheiro para financiar a manifestação, segundo os manifestantes.
De acordo com o presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo, Altair Guimarães, a comunidade depende do projeto da prefeitura para avançar com os planos próprios. Ele conta que prefeitura não faz intervenções urbanísticas na comunidade e atrasa o projeto popular. “O prefeito [Eduardo Paes] tem que dizer o que ele pretende, onde vai passar viaduto e pontes para o [antigo] autódromo. Os técnicos das universidades, do nosso projeto, bonito, lindo, anseiam ter isso”, explicou.
Parte dos moradores da vila deixou a comunidade em troca de imóveis populares no Parque Carioca, um condomínio de 900 unidades, com dois e três quartos. Os imóveis tem área verde, clube com piscina, espaço gourmet, creche e espaço comercial, um empreendimento que custou R$ 105 milhões, segundo a Empresa Olímpica Municipal (EOM). No entanto, decidiram ficar na comunidade 187 famílias, que cobram políticas públicas.
Um das autoras do Plano Popular, a pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Camila Lomino, disse que o projeto da Vila Autódromo, incluindo a creche, custa um terço do projeto de remoção da prefeitura. Porém, avalia que não há boa vontade do Poder Público para atender a comunidade remanescente, a começar pela regularização dos imóveis. “Não existe segurança jurídica e legalização formal do registro da terra. É uma disputa que favorece as construtoras e é uma briga muito dura, pois estamos falando de direitos”, destacou a pesquisadora.
A comunidade reivindica esgotamento sanitário, dragagem de canal, recuperação da faixa marginal da Lagoa de Jacarepaguá, a criação de novas áreas comunitárias de esporte e lazer, a inclusão da comunidade no Programa Saúde da Família, além da construção uma creche e uma escola municipal. A reforma das unidades habitacionais foi incluída no documento de reivindicação, de acordo com as características de cada família.
A Agência Brasil procurou a Secretaria Municipal de Habitação para saber detalhes dos projetos da prefeitura na vila, mas não obteve resposta. A Secretaria de Educação também não informou se pretende participar da construção da nova creche e da escola na comunidade.
Edição: Marcos Chagas.