Para o Inesc, o financiamento privadas das campanhas privilegia os homens brancos, provocando a enorme desigualdade no sistema de representação eleitoral.
Najla Passos, Carta Maior
Uma pesquisa divulgada nesta sexta (19) pelo Instituto de Estudos Socioecnômicos (Inesc) mostra que, quaisquer que sejam os eleitos este ano, mulheres, negros, indígenas e jovens continuarão sub-representados no parlamento brasileiro. O estudo que traça o perfil dos 25.919 candidatos a 12 cargos nas eleições 2014 foi elaborado a partir da base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que, pela primeira vez, solicitou que os candidatos declarassem sua raça/cor.
As mulheres, que são maioria na população brasileira, continuam sub-representadas, embora ocorram avanços são expressivos. Pela primeira vez na história do país, os partidos conseguiram preencher a cota que determina que 30% das candidaturas têm que ser destinadas a elas. Em 2010, mesmo com a lei, as mulheres somaram apenas 22% dos candidatos.
Em relação à questão racional, a maioria dos candidatos ainda é formada por homens brancos (38,6%), seguida pelos homens negros (30%), pelas mulheres brancas (16,5% ) e mulheres negras (14,2%). Os candidatos negros estão filiados principalmente a legendas menores de esquerda, ligadas a causas operárias e socialistas: (PCB, PCdoB, PCO, PSTU e PSOL). Dentre os maiores, o PT é que apresenta mais negros (41,9%), seguido pelo PSB (37,7%). O PSDB possui apenas 32,8% e o PMDB, somente 26,5%.
Do total de 25.919 candidatos nacionais e regionais, apenas 83 são indígenas, sendo 27 mulheres, presentes apenas em partidos como PCdo B, PSOL, PSTU e PT e majoritariamente, na disputa por cadeiras nas assembleias estaduais do Amazonas e Mato Grosso do Sul. “Este é um percentual muito baixo, considerando que as lutas indígenas também estão relevantes na agenda política do país e, os que conseguirem se eleger, dificilmente vão conseguir legislar a favor dos seus interesses”, afirma a assessora política do Inesc, Carmela Zigoni.
A pesquisa também mostra que, apesar da demanda dos jovens por maior participação na política, os candidatos com até 29 anos, que representam o maior percentual da população brasileira, não encontraram espaço nos partidos políticos. Apenas 6,8% das candidaturas são de jovens. O dado positivo é que, entre os mais novos, 45,4% são negros e 52,3% são mulheres, revelando maior equidade de gênero e raça. Entre candidatos com 50 a 69 anos, 72,3% são homens, e entre aqueles com mais de 70 anos, 72,3% são homens.
“A participação da juventude ainda não está garantida pelas agremiações partidárias, mas a boa notícia é que, entre eles, há mais mulheres e mais negros, ao contrário do que ocorre entre os candidatos com mais de 50 anos, majoritariamente homens brancos. Portanto, há maior equidade entre os jovens, com uma inclusão positiva”, observa a assessora.
Para ela, o perfil dos candidatos comprova que, a despeito de pequenos avanços, o parlamento ainda ficará aquém de representar a composição real da sociedade brasileira, o que reforça a necessidade de uma reforma política que minimize a influência do poder econômico nas campanhas eleitorais.
“Mulheres, negros, indígenas e jovens são candidaturas que, por causa do nosso financiamento privado de campanha, tendem a ser menores, com menos recursos para se colocar para o eleitor e menor exposição na mídia. Então, elas enfrentam diversos momentos de desigualdade e, se eleitos, esses candidatos irão enfrentar também um Congresso Nacional formado por homens brancos que defendem os interesses privados que financiaram as campanhas maiores”, resume Carmela