Minha mãe disse que, quando acabar a água do sistema Cantareira, que abastece a região onde moro aqui em São Paulo, posso ir tomar banho e lavar roupa na casa dela, suprida pelo sistema Guarapiranga.
A pergunta não foi um cutucão político, pois ela não acompanha muito os debates da vida pública. Creio que teve motivação mais prosaica. Pois, dessa forma, pode ver mais o filho que anda tão ocupado que não tem mais tempo para comer as coxinhas e as empadinhas que ela faz.
Perguntou quando isso deve acontecer. No que respondi, final de outubro.
– Mas isso é logo depois das eleições, né?
– É…
– Mas o pessoal sabe disso?
– Sabe…
Fazendo reportagens pelo interior do Brasil, tive que, por vezes, me virar com pouca água limpa e muitos baby wipes.
Em Timor Leste, numa incursão mato adentro, fiquei cinco dias sem banho. Não me pergunte como.
Realizando coberturas em áreas desérticas ou áridas, aprendi truques milenares para usar um cantil por dia para tudo.
Reaproveitar roupas usadas sem precisar lavar é uma arte.
Usar paninhos com produtos de limpeza que dispensam água em móveis e no chão, um conhecimento útil.
Captar água das raras chuvas para regar plantas, ecologicamente bonito.
Limpar pratos sem água, um sucesso.
Não tenho carro, então dane-se a mangueira. Bike suja é bike de luta.
Rasparei o cabelo. Direi que é charme.
Suco? Chupe fruta!
Café? Coma o pó!
Dar descarga, para quê? Deixa juntar, oras! Deu nojinho? São Paulo é para os fortes, mano!
E aprenderei as técnicas de Pai Mei a fim de controlar a transpiração.
Se tudo falhar, comando uma marcha dos paulistas bons em direção à Terra da Água Prometida. Afinal, somos ou não um povo bandeirante? Pode ser Rondônia, onde transformaremos tudo em um grande shopping center. O Acre será o estacionamento.
É isso.
Vem em mim, novembro, que estou pronto para você.