Investigue neste fim de semana – na redação de “Outras Palavras” e nas ruas do centro – a vasta presença dos índios na metrópole. Saiba como não ser indiferente a ela
Por Antonio Martins – Outras Palavras
Num texto recente, o linguista e dissidente norte-americano Noam Chomsky notou que os governos e mídia alinhados a Washington precisam efetuar uma operação ideológica especial, para justificar a agressão permanente praticada por Israel contra os palestinos. Implica tratá-los como impessoas (“unpeople”). Só tornando-os invisíveis é possível apoiar Telaviv e considerar-se, simultaneamente, partidário da Democracia e dos Direitos Humanos.
Neste fim de semana, em São Paulo, será possível compreender e debater um fenômeno semelhante: a invisibilização dos povos indígenas brasileiros. Num curso em duas etapas – conceitual no sábado, prática-peripatética, no domingo – o historiador Carlos José Santos abordará a presença dos povos originais no coração metrópole. Além disso (e talvez mais importante), fornecerá elementos para reenxergá-los,invertendo o processo descrito por Chomsky. Autor de diversos livros e artigos sobre a tentativa de dominação simbólica dos oprimidos, também doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, Carlos é professor na Universidade Federal de Santa Cruz, em Ilheus-BA. Indígena ele próprio, participa ativamente das lutas pela demarcação da terra tupinambá, na região. Estará acompanhado de quatro líderes deste movimento, o que permitirá, além de tudo, um debate sobre a relação atual entre o Estado brasileiro e os povos indígenas.
O curso é intenso. Em sua parte conceitual (no sábado, das 9h às 16h, na nova sede de Outras Palavras, no Bixiga), constituída de quatro módulos (veja programação ao final do post), procura identificar e desconstruir os processos sociais e as ideias que tornam os povos indígenas invisíveis no Brasil. Do ponto de vista material, eles são levados a se dissolver na cidade. Uma parcela ínfima dos paulistanos conhece, por exemplo, as aldeias guaranis no município – ademais, convertidas em favelas; ou sabe que há pelo menos seis povos com presença sólida na metrópole (guaranis, terenas, caigangues, pancararus, pancararés e tupinambás).
Mas Carlos debaterá, além deste, o aspecto simbólico da invisiblização. Para desaparecerem de fato, os povos indígenas precisam ser reduzidos a caricaturas. Associâmo-los a imagens como a choupana ou o corpo nu. Não nos damos conta que permanecem presentes em nossa cultura e sociedade. Foram destituídos de seu território e de parte de seus costumes – mas não de sua singularidade. É perfeitamente possível identificá-la em nossas cidades – mas para isso, é preciso superar conceitos homogenizantes, como a própria palavra “índio”.
A exposição e debate teóricos do sábado serão aplicados no domingo. Os participantes irão se encontrar às 14h, no Páteo do Colégio e percorrer as ruas do Centro. Poderão desvendar elementos vivos da presença indígena exatamente no ponto onde se deu o primeiro choque entre o colonizador e os habitantes originais da terra. Ao final, haverá roda de conversa com os participantes da luta pela demarcação das terras tupinambás no Sul da Bahia.
Dirigido a todos os interessados em examinar a fundo as culturas indígenas (inclusive professores dispostos a apresentá-las curricularmente a seus alunos), o curso oferece certificado de participação. A taxa de inscrição é R$ 150 e inclui documento valioso: um CD com textos, fontes, biografia, fotos, mapas, músicas e vídeos sobre as temáticas tratadas. Professores, estudantes e ativistas de movimentos sociais — além de participantes do programa Outros Quinhentos e colaboradores editoriais de Outras Palavras – pagam R$ 100. É possível parcelar em duas vezes. As vagas são limitadas. Inscrições podem ser feitas por email ([email protected]) ou formulário disponível em página no Facebook.
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História e Culturas Indígenas e a cidade de São Paulo:
Abordagens, pesquisas e possibilidades de ensino (Lei 11.645)
SÁBADO, 6/9, das 9h às 16h
Na sede de Outras Palavras
Rua Conselheiro Ramalho, 945 – Bixiga – São Paulo (veja mapa)
> Apresentação
A importância do estudo sobre as histórias, culturas e saberes indígenas
> Módulo I
Conceitos iniciais e a palavra índio / e com a palavra, o índio
– História como um conhecimento construído
– Cultura e suas variações
– Espaço, território e lugar
– Etnia, religião/religiosidade, rituais
– História, memória e oralidade
> Módulo II
De terra de índios à “invenção” do Brasil: o caso de São Paulo
– Presença identitária indígena
– O “achamento do Brasil”: “Paraiso” e ou “Inferno”
– Aldeias e Aldeamentos: imposições, resistências e ou reelaborações
– “Dem?nios e Querubins”
– “Índios e as terorias raciais
> Módulo III
Os povos indígenas, suas lutas e relações com o Estado brasileiro
– Colônia, Império e República: entre o extermínio, afastamento e tutela sobre os índios
– Diferentes formas de reelaborar as existências indigenas
– Os “ressurgimentos” e resistências indígenas
> Módulo IV
Encontros, desencontros e estranhamentos: Quem é Índio?
– O que significa ser índio no Brasil?
– Índio ou Povos Indígenas?
– Educação, escola indígena e ensino das Histórias / Culturas indígenas
– Lei 11.645/2008: a “lei tarda mas não”?
Domingo, 7/9, das 14 às 16h
Páteo do Colégio
> Aula de Campo
No centro de São Paulo, partindo do Páteo do Colégio e caminhando por territórios que são vestígios da presença indígena em São Paulo