Da redação (PSTU)
No último dia 11, o professor aposentado da USP, Boris Vargaftig, enviou uma carta à reitoria da Unicamp renunciando ao título de Doutor Honoris Causa recebido em 1991. A medida é um protesto à recusa do Conselho Universitário daquela universidade em anular o título também concedido ao Coronel Jarbas Passarinho, em 1973, durante a ditadura militar. É também uma manifestação contra as medidas autoritárias movidas pela Unicamp, e também pela USP, contra as greves, as perseguições a ativistas e à própria estrutura antidemocrática das universidades. Boris Vargaftig é militante histórico e atualmente integra as fileiras do PSTU. É um respeitado pesquisador, professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. Leia abaixo a carta enviada pelo professor ao reitor da Unicamp.
“Ao Professor Doutor José Tadeu Jorge/ DD. Reitor da Universidade Estadual de Campinas/ Cidade Universitária ‘Zeferino Vaz’
São Paulo, 11 de agosto de 2014
Senhor Reitor,
Tomei conhecimento da recusa do Conselho Universitário da Unicamp em anular o título de Doutor Honoris Causa que havia sido concedido ao Coronel Jarbas Passarinho em 1973, durante a ditadura militar, em condições que podemos imaginar. Em 1991, fui honrado por igual distinção pela Unicamp e guardei até o presente momento com gratidão esta lembrança (e o diploma assinado pelo Professor Carlos Vogt, Reitor de então).
A recente recusa em anular a honraria outorgada ao ex-Ministro da Educação do governo do General Emilio Garrastazu Médici confirma a evolução retrógrada da política brasileira em curso, que as universidades públicas seguem, não só em em relação ao exercício do direito de greve e à liberdade de manifestar, como também na manutenção de sua estrutura anti-democrática e nos processos (como estão em curso na USP), além de outras aberrações. A proposta de unidades de ensino dessa Universidade que visavam fazer justiça – já que outras medidas de justiça não ocorreram ainda – foi rejeitada por apenas um voto: 50 a 49 votos, mais 10 abstenções e 10 contrários. Certamente, uma nova discussão nesta mesma reunião – pela importância do tema – teria permitido reverter tal decisão.
Recuso-me a continuar a acompanhar o Coronel repressivo, ex-Ministro da Educação e responsável por tantos desmandos e arbitrariedades. Por essa razão, respeitosamente, comunico-lhe minha decisão de devolver o título de Doutor Honoris Causa que muito me honrou, mas a partir de agora passa a ser o contrário. Se não o fiz anteriormente, foi porque simplesmente ignorava que tal homenagem havia sido concedida a essa personagem da ditadura militar.
Com meus cumprimentos,
Boris Vargaftig
Professor titular da USP (aposentado)”