Respirar essa titica malcheirosa que convencionamos chamar de ar, em São Paulo, nesta época do ano, é equivalente a ser um fumante ativo.
E o pior, de substâncias químicas que só desgraçam, mas sem prazer. Ou seja, sem nem um THC para deixar tudo mais divertido.
Já repararam que, quando reclamamos da poluição ou de qualquer problema de São Paulo que não possa ser atribuído apenas aos gestores públicos mas também a nós, população, aparece sempre algum “paulistanista” – o nacionalista paulista, patologia que floresce por estas bandas do Trópico de Capricórnio – e prontamente vomita: “não tá feliz, vá embora”?
É o contrário do “Tá com dó? Leva pra casa!” que o mesmo sujeito também profere quando o assunto é resolver os problemas sociais da metrópole relacionados com a gente parda, fedida e diferenciada.
Minha maior alegria é saber que, como já disse aqui, essa porcaria nojenta que abraça a cidade feito enchimento de fralda suja de bebê vai levar todo mundo para sepultura. Sabe por que? Porque poluição não vê grades, cercas de arame farpado, muro alto ou respeita segurança com cara de mercenário do Leste Europeu. Não adiante se esconder embaixo da cama. Ela vai te pegar.
Qualquer ameba em coma sabe que somos reféns de um modelo de transporte atrasado. Seja porque o poder público (com nossa anuência e apoio de montadoras e empreiteiras) manteve, por muito tempo, o foco no transporte individual em detrimento a investimentos pesados no coletivo, criando uma massa que acha que civilidade é ter um carro bom e não uma boa rede de trens, trams e ônibus. Seja porque criamos um sistema econômico que se tornou deles dependente. E qualquer tentativa de muda-lo é visto como uma afronta.
Triste é saber que uma grande parte da população anda de transporte público e, por opção, necessidade ou falta de recursos, teve menos responsabilidade que outros pelo belos e sinistros pores-de-sol cor vermelho-fuligem que aparecem por aqui. E mais triste ainda que, enquanto os filhos dos mais ricos nem bem chegam e já são atendidos em PS de hospitais para uma inalação, os dos mais pobres terão que enfrentar fila. Sem contar que a expectativa de vida de quem é diagnosticado com câncer no pulmão é diretamente proporcional ao tipo de tratamento que se tem ace$$o.
Bora lá, cambada de ignorantes! Vamos continuar enchendo os pulmões para gritar que o seu carro é mais importante do que qualquer outra coisa, que sem ele vocês não são nada, que ele é a razão de sua existência. E, para isso, me façam um favor: respirem bem fundo.