Uma homenagem emocionada: “Eduardo Coutinho – Cabra Marcado para Morrer (1984)”

Em 1962, o líder da liga Camponesa de Sapé (PB), João Pedro Teixeira, é assassinado por ordem de latifundiários. Um filme sobre sua vida começa a ser rodado em 1964, com a reconstituição ficcional da ação política que levou ao assassinato, e com a produção do CPC da UNE e do Movimento de Cultura Popular de Pernambuco, e direção de Eduardo Coutinho. As filmagens com a participação de camponeses do Engenho Galiléia (PE) e da viúva de João Pedro, Elizabeth Teixeira, são interrompidas pelo Golpe Militar em 1964.

Dezessete anos depois, em 1981, Eduardo Coutinho retoma o projeto e procura Elizabeth Teixeira e outros participantes do filme interrompido, como o camponês João Virgílio, também atuante em ligas. O tema central passa a ser a história de cada um deles que, estimulados pela filmagem e revendo as imagens do passado, elaboram para a câmera os sentidos de suas experiências. João Virgílio conta a tortura e a prisão que sofreu neste período. Enquanto Elizabeth, que havia mudado de nome e vivia refugiada numa pequena cidade da Bahia com apenas um de seus dez filhos, emerge da clandestinidade e reassume sua identidade. Ela também fala de sua prisão e do rencontro com os filhos, antes dispersos por várias cidades do Brasil, e da tentativa de reconstituir suas vidas. (mais…)

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Ricardo Albuquerque, advogado dos Tenharim: “Os policiais não foram investigar; eles foram lá para tentar comprovar uma convicção já formada”

Tenharim - crianças - Cley
Crianças Tenharim. Foto: Gabriel Ivan

Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

Quinta-feira, dia 30, o advogado Ricardo Albuquerque deveria estar finalmente tendo acesso ao inquérito sobre o desaparecimento de três homens na Transamazônica, no dia 16 de dezembro. Os planos mudaram, entretanto, quando a Polícia Federal informou que iria efetuar prisões no Território Indígena. Ricardo pegou a estrada e, juntamente com integrantes da Funai, presenciou a prisão de cinco Tenharim (um cacique da aldeia Taboca; dois filhos do cacique Ivan; e dois nativos da aldeia Marmelo). Depois disso, mais estrada até Porto Velho, horas e horas de interrogatórios, reuniões com a OAB local e, finalmente, a volta a Manaus, onde só amanhã poderá ter ciência do que diz o inquérito e seguir adiante, lutando pelos seus clientes.

Enquanto na grande imprensa e na internet alguns procuram fomentar uma atmosfera propícia à violência, afirmando que os Tenharim se declararam em guerra e jogando as populações das três cidades (Humaitá, Apuí e Santo Antonio do Matupi) contra os indígenas que há um mês e dois dias se veem impedidos de sair da reserva, o recado que Ricardo transmite é tranquilizador: por mais tristes e consternados que estejam, Nilcélio Jiahui e Aurélio Tenharim, lideranças das duas etnias, continuam a garantir que seu povo não irá atacar quem quer que seja.

Leia a entrevista feita por e-mail com Ricardo Tavares de Albuquerque: (mais…)

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Cineasta Eduardo Coutinho é assassinado no Rio. Que perda!

Eduardo Coutinho morreu neste domingo (2) aos 81 anos Reprodução / Pipoca Moderna
Eduardo Coutinho morreu neste domingo (2) aos 81 anos
Reprodução / Pipoca Moderna

R7 – O cineasta Eduardo Coutinho, de 81 anos, foi assassinado a facadas neste domingo (2) dentro de casa no bairro da Lagoa, na zona sul do Rio Janeiro. O filho, Daniel Coutinho, é o principal suspeito. Ele também seria o responsável por esfaquear a mãe e, em seguida, teria tentado se matar.

A mulher do cineasta foi internada em estado gravíssimo no Hospital Municipal Miguel Couto. O filho, que supostamente sofre de problemas mentais, também foi levado para lá, com ferimentos menos graves.

O corpo do cineasta foi levado para o Instituto Médico Legal. A Divisão de Homicídios assumiu as investigações. O delegado responsável pelo caso estava no hospital por volta das 15h45 para colher o depoimento de Daniel.

Coutinho era considerado um dos maiores documentaristas do Brasil. Entre seus trabalhos de maior destaque estãoCabra Marcado para Morrer, Edifício Master, Jogo de Cena e Babilônia 2000. Em 2007, o cineasta ganhou um Kikito de Cristal, principal premiação do cinema brasileiro, pelo conjunto da obra. Seu último documentário, As Canções, foi lançado em 2011 e foi o 12º longa-metragem dirigido por ele.

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Comisión Interamericana designa nuevos relatores de derechos humanos

La actual composición de la CIDH: Felipe González, James L. Cavallaro, Tracy Robinson, Rosa María Ortiz, Rose-Marie Belle Antoine, Paulo Vannuchi, José de Jesús Orozco Henríquez.
La actual composición de la CIDH: Felipe González, James L. Cavallaro, Tracy Robinson, Rosa María Ortiz, Rose-Marie Belle Antoine, Paulo Vannuchi, José de Jesús Orozco Henríquez.

Servindi – La Comisión Interamericana de Derechos Humanos (CIDH) designó a  nuevos relatores en una reunión de trabajo realizada el 30 y 31 de enero en La Antigua, Guatemala. Estos son:

José de Jesús Orozco Henríquez, Relator sobre los Derechos de Defensores y Defensoras de Derechos Humanos; Tracy Robinson, Relatora sobre los Derechos de las Mujeres; y Relatora sobre los Derechos de las Personas Lesbianas, Gays, Transexuales e Intersex (LGTBI) y Rosa María Ortiz, Relatora sobre los Derechos de Niños, Niñas y Adolescentes.

Asimismo, Felipe González, Relator sobre los Derechos de los Migrantes; Rose-Marie Belle Antoine, Relatora sobre los Derechos de los Pueblos Indígenas y Relatora sobre las Personas Afro-descendientes y James L. Cavallaro, Relator sobre los Derechos de las Personas Privadas de Libertad.

También se designó a Paulo Vannuchi, Comisionado encargado de la Unidad de Derechos Económicos, Sociales y Culturales. Catalina Botero Marino continua como Relatora Especial para la Libertad de Expresión desde que fue elegida en julio de 2008. (mais…)

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Violência contra índio está banalizada, diz presidente da Funai

CARROS E EQUIPAMENTOS DA FUNAI DESTRUÍDOS PELO FOGO APÓS OS PROTESTOS

Assirati é contra demarcação passar para o Legislativo, pois, segundo ela, atrasaria processos de regularização. No comando do órgão há sete meses, ela só teve uma rápida reunião com a presidente até hoje

Por Patrícia Britto, na Folha 

No comando de uma área repleta de conflitos, a presidente interina da Funai (Fundação Nacional do Índio), Maria Augusta Assirati, 36, diz que a violência contra indígenas está se “banalizando”. Em entrevista à Folha, ela admite que, sozinho, o órgão não consegue lidar com o barril de pólvora das disputas entre índios e produtores rurais. Há sete meses no cargo, ela só teve uma reunião com a presidente Dilma Rousseff.

Anteontem, um dia após a entrevista, cinco índios foram presos no AM sob suspeita de matar três homens. Em nota, a Funai disse desconhecer os motivos das prisões e afirmou monitorar a situação.  (mais…)

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Para não esquecer

O presidente Emílio Garrastazu Médici na Escola Militar de Porto Alegre durante o período de maior repressão da ditadura militar instaurada em 1964
O presidente Emílio Garrastazu Médici na Escola Militar de Porto Alegre durante o período de maior repressão da ditadura militar instaurada em 1964

Golpe militar no Brasil completa 50 anos e é tema de publicações, entre livros de memória, história, estudos políticos e reportagens. Editoras anunciam novos títulos sobre o período

Por João Paulo, em O Estado de Minas

Há uma circunstância peculiar em torno do golpe militar de 1964. Ao mesmo tempo em que faz parte da história muito próxima dos acontecimentos, pode parecer algo distante para gerações que não foram testemunhas dos fatos e conviveram com interpretações marcadas pelo peso ideológico. Ao se aproximar das cinco décadas do 31 de março de 1964, o interesse pelo tema tem, exatamente por isso, um novo sentido. Já há distanciamento e volume de estudos suficientes para tratar do golpe militar com profundidade e, ainda, suas marcas estão presentes na sociedade, na economia e na política brasileira. Tão longe, tão perto.

A nova safra de trabalhos sobre 1964 começa a se avolumar. Depois do sucesso de livros de fundo histórico, o mercado parece ter percebido que tinha um bom assunto nas mãos e cuidou de preparar obras de todo calibre e estilo para marcar os 50 anos do golpe. Contou ainda com a produção acadêmica, que vem se concentrando em aspectos do período que haviam ficado de fora até então, entre eles a dimensão cultural, de política externa e até de dissenso no interior das Forças Armadas. (mais…)

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Violência, amor e política

rapaz entre duas portasPor João Paulo, em Estado de Minas

De uns tempos para cá, sem que se fizesse muito alarde, a violência se tornou a principal mercadoria no noticiário brasileiro. É claro que o tema é importante e nunca esteve distante da realidade brasileira, mas havia uma gradação em seu tratamento que ganhava tradução na forma como o jornalismo se acercava de seus conteúdos. Assim, havia jornal que bastava torcer para verter sangue e noticiários de TV que espetacularizavam a violência, extraindo dela uma emoção construída e uma análise social capenga, que quase sempre vitimava pobres, pretos e periféricos.

Hoje, crimes de toda monta tomam conta do cardápio dos noticiários. Não há mais separação por horário, veículo ou linha de programação: todos servem violência como prato principal. Os vespertinos especializados em crimes fazem apenas o aperitivo para o que vem algumas horas depois. Assaltos, assassinatos e acidentes são mostrados com detalhes minuciosos. Há mesmo uma categoria de reportagem que se tornou clássica: a exibição de uma violência flagrada por câmeras de segurança, que são repetidas à exaustão. Reality show de violência sem necessidade de narração: a morte do jornalismo.

As páginas policiais nos jornais voltaram a ganhar força, os telejornais de horário nobre assumiram a pauta como de interesse púbico, a internet se tornou veículo por excelência do show de horror que se desdobra a cada dia na vida do cidadão. Ao mesmo tempo em que o tema ocupa maior espaço, perde-se em análise e contexto. Na verdade, ao assistir aos jornais de maior prestígio na TV ou acompanhar a cobertura policial nos jornais, o que se percebe é um desmembramento, uma tendência a tornar cada crime um episódio de uma onda indistinta de violência. (mais…)

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Com Henfil, HQ nunca foi tão brasileira

HenfilPor Rafael S. N. Mendonça, especial para O Tempo

Henrique de Souza Filho nasceu em Ribeirão das Neves, em Minas Gerais, em 1944, e neste 5 de fevereiro completaria 70 anos, se, em 4 de janeiro de 1988, a Aids contraída em uma sessão de transfusão de sangue, que ele necessitava por ser hemofílico, não o tivesse derrubado. Ele foi um dos mais inventivos, politizados e geniais mestres do quadrinho brasileiro. Usou como poucos a sua arte para lutar contra a ditadura e em favor de campanhas políticas, como a Anistia e as Diretas Já! (inclusive, criando este slogan). E se você ainda não ligou o nome à importância de seu apelido, trata-se de Henfil, o criador de personagens como os Fradinhos, Cumprido e Baixim, Graúna, Bode Orelana e Capitão Zeferino, que deixou sua marca em todas as gerações de artistas dos quadrinhos que vieram depois dele.

No Rio um evento marcará a data: 70 anos de Henfil – Morro, Mas Meu Desenho Fica homenageia o artista com um debate que reúne personalidades como o ator e diretor Paulo Betti, o cartunista Chico Caruso, o jornalista Tárik de Souza e o artista Nelsinho Rodrigues. No mesmo evento, a organização Henfil – Educação e Sustentabilidade, em parceira com o Instituto Henfil, do Rio de Janeiro, lançará no Museu da República as edições 4, 5, 6, 7 e 31 da Coleção Fradim, originalmente publicada entre 1971 e 1980.

Segundo informações da assessoria do Henfil – Educação e Sustentabilidade, os editores estão em um esforço conjunto para lançar todas as edições restantes – de 31, já foram lançadas 12 – até março. (mais…)

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Começou a caça às Bruxas de 2014!, por Claudia Fávaro

Cláudia Fávaro

Choro ao escrever esse relato, não por mim, porque quando entrei nessa luta sabia que não ia ser fácil, mas choro pela raiva de saber que todos os dias milhares de mulheres nas favelas e nos presídios brasileiros são tratadas tão ou mais desrespeitosamente. O nome dela eu nuca vou me esquecer, Andreia, a incorporação clássica do Machismo institucional. 

Por Claudia Fávaro

Caros amigos. Ontem, dia 31 de janeiro foi realizado em Porto Alegre o segundo ato do Bloco de Lutas em 2014. Inicialmente chamado para dar conta de dar o recado a Dilma, que viria a Porto Alegre inaugurar o estádio beira Rio, o ato, que se somava à Luta dos rodoviários que a 5 dias paralisaram o transporte em Porto Alegre, teve grande adesão. Com o recuo da agenda da Dilma, temendo o protesto chamado para a data, com a cidade sem nenhum ônibus circulando e a chuva que caía, nos concentramos na frente da prefeitura com mais de 2 mil pessoas. Afinal, a chuva nunca nos espantou.

A marcha correu tranquila e, sem maiores prejuízos às vidraças, percorreu as ruas de Porto Alegre até o ginásio tesourinha, onde acontecia a assembleia geral dos rodoviários que contava com cerca de 1000 trabalhadores. Depois deste lindo encontro entre o Bloco de Lutas e os rodoviários, ocorreu um ato bem bonito com falas politizadas e foi queimado o boneco do prefeito Fortunati. Em seguida a marcha seguiu até a Zero Hora, que estranhamente estava escancarada, sem nenhuma proteção policial. Depois de 2013 onde nunca conseguimos chegar perto dali, isso soou muito estranho… Ficamos ali por cerca de 20 min. Alguns vidros foram quebrados, mas nada que represente prejuízo a esta empresa exploradora filhote da ditadura militar, e a marcha se foi para o desfecho no largo Zumbi dos Palmares. Foi lindo!

Mas, depois na dispersão caminhando em direção a casa de uma amiga para nos protegermos, eu e Lorena Castillo, militante da FAG, junto com mais dois amigos, fomos abordados pelo comandante da operação, colocados na parede de forma brusca e violenta e ali ficamos até a chegada de policiais femininas. Eles me queriam! O comandante veio pra cima de mim por umas três vezes até a chegada das porcas pedindo que eu entregasse “o que tinha de ilícito”! (mais…)

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