Começou a caça às Bruxas de 2014!, por Claudia Fávaro

Cláudia Fávaro

Choro ao escrever esse relato, não por mim, porque quando entrei nessa luta sabia que não ia ser fácil, mas choro pela raiva de saber que todos os dias milhares de mulheres nas favelas e nos presídios brasileiros são tratadas tão ou mais desrespeitosamente. O nome dela eu nuca vou me esquecer, Andreia, a incorporação clássica do Machismo institucional. 

Por Claudia Fávaro

Caros amigos. Ontem, dia 31 de janeiro foi realizado em Porto Alegre o segundo ato do Bloco de Lutas em 2014. Inicialmente chamado para dar conta de dar o recado a Dilma, que viria a Porto Alegre inaugurar o estádio beira Rio, o ato, que se somava à Luta dos rodoviários que a 5 dias paralisaram o transporte em Porto Alegre, teve grande adesão. Com o recuo da agenda da Dilma, temendo o protesto chamado para a data, com a cidade sem nenhum ônibus circulando e a chuva que caía, nos concentramos na frente da prefeitura com mais de 2 mil pessoas. Afinal, a chuva nunca nos espantou.

A marcha correu tranquila e, sem maiores prejuízos às vidraças, percorreu as ruas de Porto Alegre até o ginásio tesourinha, onde acontecia a assembleia geral dos rodoviários que contava com cerca de 1000 trabalhadores. Depois deste lindo encontro entre o Bloco de Lutas e os rodoviários, ocorreu um ato bem bonito com falas politizadas e foi queimado o boneco do prefeito Fortunati. Em seguida a marcha seguiu até a Zero Hora, que estranhamente estava escancarada, sem nenhuma proteção policial. Depois de 2013 onde nunca conseguimos chegar perto dali, isso soou muito estranho… Ficamos ali por cerca de 20 min. Alguns vidros foram quebrados, mas nada que represente prejuízo a esta empresa exploradora filhote da ditadura militar, e a marcha se foi para o desfecho no largo Zumbi dos Palmares. Foi lindo!

Mas, depois na dispersão caminhando em direção a casa de uma amiga para nos protegermos, eu e Lorena Castillo, militante da FAG, junto com mais dois amigos, fomos abordados pelo comandante da operação, colocados na parede de forma brusca e violenta e ali ficamos até a chegada de policiais femininas. Eles me queriam! O comandante veio pra cima de mim por umas três vezes até a chegada das porcas pedindo que eu entregasse “o que tinha de ilícito”!

Não encontraram nada na revista, mas não contentes o comandante mandou que uma policial me levasse até o banheiro do bar, onde fomos abordadas. Só eu! Receosa, eu disse que sozinha não iria e então deixaram que uma das compas acompanhasse. Ela viu tudo. Dentro do banheiro sofri uma revista vexatória, sendo obrigada a tirar a roupa e fazer movimentos com o corpo, de porta aberta me expondo ao público do bar. O dono do estabelecimento chegou a pedir por três vezes para que parassem, e as porcas diziam que era procedimento padrão!

Apesar de não encontrar nada que pudesse ser considerado crime, ou que de fato justificasse a prisão, fui colocada no camburão com as demais compas e rodamos por cerca de 1 hora pela cidade ouvindo desaforos e ameaças dentro do camburão.

Levadas à delegacia, ao receber o apoio de diversos militantes que foram ao local e um pelotão de advogados, depois de um chá de cadeira deram conta de nos liberar mediante um termo de compromisso nojento. Saindo da delegacia com a raiva tomando conta do corpo, seguimos na luta e fomos para a porta das garagens, mais um piquete para impedir a saída dos ônibus e dar sequência à greve!

Choro ao escrever esse relato, não por mim, porque quando entrei nessa luta sabia que não ia ser fácil, mas choro pela raiva de saber que todos os dias milhares de mulheres nas favelas e nos presídios brasileiros são tratadas tão ou mais desrespeitosamente. O nome dela eu nuca vou me esquecer, Andréia, a incorporação clássica do Machismo institucional. A policial feminina teve um procedimento desnecessário e usou do seu poder para me humilhar perante as pessoas que ali estavam. Lamento, mas ela mexeu com a pessoa errada!

Se pensam que vão me calar, se enganaram. Dilma e seus ministros podem prometer isolamento e retaliação aos que lutam contra os megaeventos: Copa e Olimpíadas e suas violações, podem criminalizar quem luta pelo transporte 100% público e entende a mobilidade urbana como um direito humano, um direito à cidade, mas vamos então nos enfrentar nas ruas, porque nem a Força Nacional de segurança vai nos calar. Tá ouvindo Dilma? Tá ouvindo Tarso? Tá ouvindo Fortunatti?

Foi uma prisão desnecessária, autoritária e direcionada. Depois de segunda-feira, quando a Rosane Oliveira, colunista da Zero Hora, me citou nominalmente e ecoou os ataques de Cesar Busato, secretário de governança do governo Fortunatti, à minha pessoa, eles deram às forças repressoras uma tarefa, e essa tarefa tinha nome.

Sou mãe, trabalho, pago minhas contas e meus impostos, dediquei parte da minha vida a levar a arquitetura e moradia aos quatro cantos desse estado, nos locais mais longínquos desse Rio Grande, moradia para quem passou anos debaixo da lona lutando pelo direito à terra e à soberania alimentar. Eu fiz minha escolha e escolhi estar do lado dos de baixo, escolhi a quem serviria o meu conhecimento! Como defensora de direitos humanos, conheço as leis e as regras do jogo, sei dos meus direitos e posso afirmar a vocês: Não vão nos calar! Nossa luta segue e 2014 vai ser maior!

Convoco a todos para que lotem a Assembléia do Bloco de Lutas na Terça-Feira, que tomem as ruas, que tomem o poder, que tomem a autodeterminação de suas vidas. Não podemos deixar nossas cidades e nossas vidas na mão dos poderosos. Minha luta segue, por uma cidade mais humana e mais justa!

Confirmando o depoimento de Cláudia Fávaro, postamos abaixo dois pequenos vídeos, divulgados pelo Coletivo Catarse:

Enviada para Combate Racismo Ambiental por  Diane Porto.

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