Nesta quarta-feira (18/12), no segundo dia do 27º Encontro estadual do MST em Sergipe, cerca de 400 Sem Terra debateram a conjuntura da luta pela terra e as prioridades do MST, na véspera do 6º Congresso Nacional do movimento.
Os debates contaram com a participação de Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST. Segundo Alexandre, o número pífio de desapropriações de terras nos últimos anos está levando os acampados e assentados a se darem conta que a Reforma Agrária só avança na luta.
Parcelas significadas da população também estão descobrindo o lado destrutivo do agronegócio. Assim, a conjuntura da luta pela terra aponta para a retomada de grandes mobilizações e ocupações a favor de uma Reforma Agrária Popular. Confira a entrevista que Alexandre Conceição deu à Página do MST:
Qual é o significado do 6º Congresso do MST, que irá acontecer em fevereiro de 2014?
O MST nasce da rebeldia dos camponeses. Grandes ocupações espontâneas de terras surgiram nos anos de chumbo da ditadura militar, no final da década dos 70. Os camponeses identificavam o latifúndio improdutivo e iam lá para ocupar, resistir e produzir.
Ao longo de 30 anos de luta, conseguimos ter o apoio da sociedade e construir o MST apesar de muita repressão. Agora, estamos na véspera do nosso 6º Congresso,onde pretendemos reunir de mais de 15 mil camponeses de todo o Brasil para conversar sobre a conjuntura agrária no Brasil, as alternativas ao avanço do modelo do agronegócio e as lutas sociais que teremos que construir no próximo período.
Em que contexto acontecerá este 6º Congresso?
A conjuntura política é muito difícil. O agronegócio tem muita força. Os resultados da Reforma Agrária em 2012-2013 foram muito desfavoráveis. Em 2012, assentamos em torno de 10 mil famílias no país.
Isto é uma vergonha. E os números de 2013 são piores do que 2012. Os 100 decretos de desapropriação prometidos pela presidente nem dariam para assentar 6 mil famílias, quando temos mais de 150 mil famílias acampadas.
De todos os governos depois da ditadura militar, o governo Dilma tem sido o pior em termos de desapropriações. Isto é o fruto da política de alianças deste governo. Para se ter uma ideia: na região Nordeste do país, os aliados do governo Dilma são José Sarney no Maranhão, Renan Calheiros em Alagoas, Katia Abreu no Tocantins etc. São os grandes latifundiários do Nordeste, os senhores de engenho, que impedem a Reforma Agrária.
Com aliados com estes, não tem como fazer a Reforma Agrária. Levando em consideração estes baixos resultados, os acampados e assentados começam a se dar conta que não é em mesa de negociação que se faz Reforma Agrária.
É no latifúndio ocupado, no trancamento de BR, na mobilização do 25 de Julho. A Reforma Agrária só avançara através de grandes mobilizações. E é isto que vamos fazer, junto com todas as outras organizações do campo, para construir a Reforma Agrária Popular.
Qual é o caráter da Reforma Agrária Popular reivindicada hoje pelo movimento?
A Reforma Agrária clássica, nos moldes do sistema capitalista, não cabe mais no contexto atual. Os trabalhadores do campo e da cidade, os acampados e assentados tem hoje como tarefa de construir a Reforma Agrária Popular.
Esta Reforma Agrária Popular está baseada na produção de alimentos saudáveis para os trabalhadores urbanos e desenvolver o interior do país, gerando emprego e renda. É o nosso contraponto ao agronegócio que não produz alimentos, não gera emprego, explora o meio-ambiente e envenena a terra e o trabalhador.
Cada brasileiro consome 5,2 litros de veneno por ano por conta deste modelo. A população está começando a entender isto, e a apoiar de novo a luta pela terra.
Qual foi o impacto das mobilizações de junho para a luta de classe no Brasil?
Para o MST, as grandes mobilizações de junho foram um grande presente da juventude para os trabalhadores. Foi um momento de importância histórica. Estávamos vivendo um momento de forte descenso da luta de massa no país mas, de repente, a juventude chegou às ruas reivindicando direitos e melhores condições de vida. Foi um grande passo político.
Certamente, vamos chamar ao nosso Congresso estes jovens que se mobilizaram, e debater com eles as alianças que temos que construir para o próximo período entre o campo e a cidade para construir um novo país.