Por Fabrício Muriana e Sabrina Duran – Repórter Brasil
O geógrafo britânico David Harvey veio ao Brasil em novembro para o lançamento da versão em português do seu livro “Os limites do capital”, publicado pela primeira vez no início dos anos 1980. Professor na Universidade da Cidade de Nova York e autor de obras referenciais para a compreensão da evolução, desdobramentos e avanço do capitalismo no mundo, o geógrafo esteve em São Paulo no dia 26, depois de visitar o Rio de Janeiro e Florianópolis, para realizar a palestra “Os limites do capital e o direito à cidade”, no Centro Cultural São Paulo (CCSP). Sobre esse e outros temas, o Arquitetura da Gentrificação conversou com o geógrafo logo após sua palestra em São Paulo. Confira o vídeo acima.
Analisando as dinâmicas do capital e a construção das cidades a partir de uma perspectiva marxista, David Harvey esmiuçou fatos históricos e contemporâneos que mostram como a “reurbanização do mundo” transformou-se num dos principais meios de reprodução constante do lucro, essência do capitalismo. Como recrudescimento dessa reurbanização, nos dias de hoje o Estado vem transformando em “políticas públicas” expedientes que ferem direitos constitucionais, como o direito à moradia digna, quando promove despejos em massa em nome de projetos urbanísticos. Aliás, diz Harvey, os megaprojetos, como a Copa e as Olimpíadas, são uma ótima desculpa para que o Estado force a saída das pessoas de terras valorizadas ou com potencial de valorização, deixando o caminho livre para a ação do capital imobiliário. Como saída para a intensificação do domínio do capital sobre as cidades, não há solução que não seja radical: é preciso ser anticapitalista, diz o geógrafo.
“A luta anticapitalista, no sentido marxista formal, é fundamentalmente e muito bem interpretada como sendo a abolição da relação de classe entre capital e trabalho na produção, que permite a produção e a apropriação da mais-valia pelo capital. O objetivo final da luta anticapitalista é a abolição dessa relação de classe e tudo o que vem com ela, não importa onde ela ocorra. Na superfície, esse objetivo revolucionário parece não ter nada a ver com a urbanização em si. Mesmo quando essa luta tem de ser vista, como invariavelmente acontece, através do prisma da raça, etnia, sexualidade e gênero, e mesmo quando ela se desenrola através de conflitos urbanos interétnicos, raciais e de gênero dentro dos espaços da cidade, a concepção fundamental é que uma luta anticapitalista deve, no fim das contas, atingir profundamente as próprias entranhas do que é um sistema capitalista e arrancar o tumor canceroso das relações de classe na produção”. (trecho do livro “Rebel Cities” (Cidades Rebeldes) publicado por David Harvey em 2012)