Por alaiONline
Belo Horizonte – Artistas, intelectuais afro-brasileiros e lideranças religiosas de terreiros postaram hoje na Internet uma carta dirigida à Dilma Rousseff cobrando uma posição da presidenta da República sobre a falta de apoio do governo brasileiro à realização do Festival de Artes Negras de Lagos que se realizaria outubro próximo na antiga capital nigeriana.
Na carta, um abaixo-assinado aberto à adesão, os signatários se dizem “envergonhados” e “indignados” com a atitude do Ministério da Cultura que prometeu apoiar uma delegação para o evento e no último momento retirou o apoio, gerando o cancelamento do mesmo pela coordenação do evento na Nigéria. Eles dizem que tiveram acesso a essas informações através do Instituto Yoruba, em Belo Horizonte, entidade curadora do evento no Brasil.
Na carta, eles denunciam o descaso com que o assunto-FAN foi tratado pelo Ministério da Cultura desde o início, com o gabinete da então ex-ministra Ana de Hollanda, recusando agendar uma reunião entre a ministra e o Prêmio Nobel de Literatura, Wole Soyinka, coordenador do Festival, com a alegação de falta de agenda, ainda que ambos se encontrassem no Rio participando da Rio+20.
E que o Nobel esteve no Brasil algumas vezes, cumprindo agenda, inclusive sendo homenageado na feira literária do Governo do Distrito Federal, sem nunca ter recebido uma atenção devida do atual Ministério. Eles ainda denunciam a dicotomia existente entre o discurso e a prática dos altos escalões nos orgãos públicos brasileiros, quando se trata de apoiar atividades culturais de matriz africana.
Eles citam que entre 2012 e 2013, muitos recursos públicos foram alocados para outras atividades e que pactos e termos foram firmados para levar a cultura brasileira para Portugal, França, China etc..enquanto a África prosseguiu “invisível” em suas tentativas. A delegação, único apoio oferecido ao Festival da Nigéria (e que mesmo assim não cumpriu), “para quem sabe o significado da África, para o Brasil, é nada”, dizem.
No início da semana, o prêmio Nobel Wole Soyinka, acompanhado da mais alta autoridade de Lagos, a princesa Abiola Dosunmu,, reuniu a imprensa para anunciar os motivos que levaram ao cancelamento do FAN, um acontecimento apoiado e que envolvia o governo nigeriano – local, estadual e federal para “o reencontro com os irmãos brasileiros”.
Soyinka disse que foi comunicado pelo Instituto Yoruba que este recebeu uma mensagem de uma pessoa que assinava como Daniel Rodrigues e dizia: ” Caro Olu [Coordenador da entidade) , como falamos por telefone, devido a cortes orçamentais drásticos , aplicados horizontalmente para as ações intencionais do governo brasileiro , lamento informá-lo que a delegação do Ministério da Cultura para o Festival de Lagos foi reduzida a quatro cineastas brasileiros que trabalham com a cultura negra . Estou à sua disposição para fornecer informações adicionais que podem ser necessárias “.
Soyinka disse que, além de se tratar de um simpósio requerendo a participação e discussões de intelectuais, o corte drástico na delegação brasileira para o festival (inicialmente prevista com 300 participantes, depois reduzida para 60 e agora apenas quatro), não seria possível realizar um evento que evocava reencontro e irmandade. E acrescentou que seu sentimento é de que todas as ações nesse momento, no Brazil estão direcionadas para a Copa do Mundo, a ser realizada neste país, no próximo ano.
A petição é acompanhada de vários links inclusive do discurso da presidenta Dilma Roussef na Nigéria, quando esteve naquele país para assinar acordos de cooperação e negócios. A petição aberta à assinatura está postada no endereço Abaixo assinado à Presidenta Dilma .
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Zoraide Vilasboas