Ao acusar os “blocs” de fascistas na academia da PM a professora Marilena chegou não só a um ponto de irresponsabilidade política como de cumplicidade com a violência sistemática da PM do Rio, não só na repressão às manifestações, como no trato da população em geral.”
Por Rodrigo Guéron*, em Inverso Contraditório
Tenho notado que Marilena Chauí, cujo ótimo curso recente sobre “Espinosa e a Política” na PUC assisti de caneta e caderninho em punho, há algum tempo tem usado a história da filosofia contra a filosofia e o pensamento em geral.
Estive, estes dias, reunindo anotações para responder a forma como ela desautoriza o uso de alguns conceitos (como o conceito de “multidão” originalmente de Espinosa, mas redefinido por Antonio Negri), ou a articulação e aproximação entre conceitos (como “trabalho vivo” em Marx e “produção de subjetividade” em Deleuze e Guattari), às vezes em nome de uma fidelidade ao sentido puro e imaculado que estes conceitos teriam nos filósofos que os pensaram, às vezes em nome de uma fidelidade historicista à história da filosofia que limitaria a possibilidade de aproximação dos conceitos e seus sentidos numa divisão lógica de contextos e classificações históricas fechadas, e linhagens filosóficas determinadas.
Além disso, a maneira reativa como Chauí tem se referido aos movimentos que tomaram as ruas do país a partir de junho, nos dá a impressão que a professora despreza os acontecimentos nas suas singularidades o que, convenhamos, não é nada materialista. Marilena parece não suportar o incompreensível, o que não é absolutamente assimilável em seus aparatos conceituais prontos, ou seja, o que ela evita é exatamente um dos princípios, um dos agentes provocadores do pensamento: aquilo que nos tira do nosso lugar habitual, do nosso conforto intelectual, que é também físico, demandando novas criações, sejam conceituais, sejam artísticas. (mais…)