Marcos Tiaraju, médico do MST e filho de Roseli Nunes, vira símbolo do programa Mais Médico no RS

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Por Kamila Almeida, do Zero Hora, na Página do MST

Há 27 anos, Marcos Tiaraju Correa da Silva virou o talismã do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) gaúcho. Ontem, a trajetória repleta de simbolismos da primeira criança nascida em um acampamento campesino, em 1985, ganhou mais um elemento: Tiaraju virou símbolo do programa “Mais Médicos” no Rio Grande do Sul.

Diante de dezenas de pessoas que foram ao Palácio Piratini dar as boas-vindas aos profissionais formados no Exterior, Tiaraju – que se formou médico em Cuba e retornou para atuar no Brasil – foi convidado pelo governador Tarso Genro a se juntar às autoridades. Apesar de, durante à tarde, ter ouvido extraoficialmente de que seria citado pelo chefe de Estado, só acreditou quando ouviu o chamado do governador, na hora da cerimônia.

– Esta ida dele para Cuba e o retorno ao Brasil refletem uma coisa muito positiva. Neste sentido, ele é um símbolo – afirmou Tarso a Zero Hora.

Em 2006, Tiaraju saiu do país para cursar Medicina. Seis anos depois, retornou ao Brasil. Em outubro de 2012 revalidou o diploma estrangeiro e, desde então, atua em Nova Santa Rita.

Para o personagem de uma história de luta que se iniciou na Fazenda Annoni – onde nasceu – e que culminou com a morte da mãe Roseli durante um conflito agrário no norte do Estado (Tiaraju ainda era criança, à época), o momento teve sabor especial.

– Quando cheguei a Cuba para estudar, fui bem recebido. No Brasil, só se forma médico quem tem recursos para isso. Este momento (tornar-se símbolo do Mais Médicos) é uma forma de retribuir o que fizeram por mim – disse Tiaraju, que, apesar de defender o programa, não se inscreveu, pois já trabalha em comunidades carentes em assentamentos de Nova Santa Rita.

– É um avanço histórico na sociedade. A medicina, como é praticada, trata a saúde das pessoas como mercadoria. Neste momento, estão visualizando a saúde como uma demanda social e não só de mercado – comentou.

Profissionais foram recebidos com rosas brancas no Piratini

Foi em clima emotivo que os participantes da solenidade receberam os profissionais com rosas brancas. O ato foi uma forma de repúdio ao que ocorreu no Ceará, na semana passada, quando os  estrangeiros foram hostilizados.

Ao todo, 44 médicos formados no Exterior estão em aula durante três semanas sobre saúde pública brasileira e Língua Portuguesa em Porto Alegre. Eles devem começar a atuar em 28 municípios do Rio Grande do Sul a partir de 16 de setembro.  Além deles, outros 57 brasileiros vão atuar em 26 municípios gaúchos.

Médico do Interior no contrafluxo no programa

Depois de atuar por 25 anos na saúde pública no interior do Estado, um cirurgião geral decidiu se inscrever no programa Mais Médicos de Porto Alegre. Ele está na contramão da proposta da programa, que visa à interiorização da saúde.

Com 51 anos, o profissional não se encaixam no perfil do programa, que inclui aposentados ou recém-formados. Mas, assim que viu a oportunidade de atuar na Capital, o médico – que prefere ter a identidade preservada – preencheu a ficha de inscrição e pretende se mudar com a esposa e os três filhos para a Capital. Insatisfeito com a precariedade da saúde no Interior, ele partiu em busca de uma rede de saúde de melhor qualidade e também de aperfeiçoamento profissional.

– Espero que a rede de atenção à pessoa possa funcionar melhor aqui. Tomara que não me decepcione. Me parece que, em uma periferia, há maior visibilidade e, com isto, se consegue melhores estruturas – diz o profissional, que estava entre os 13 profissionais recepcionados ontem em Porto Alegre por representantes dos governos federal, estadual e municipal.

Arredios, poucos profissionais deram conversa para a imprensa. Além da pressão da categoria, que tem criticado a iniciativa do governo federal, os médicos se mostraram inseguros quanto às garantias do programa. Outros se mostraram insatisfeitos com a forma com que a imprensa trata o assunto e optaram por não se expor.

Durante a tarde, os médicos ouviram uma apresentação sobre como funciona a rede de saúde da Capital. Eles devem iniciar os trabalhos amanhã.

De acordo com  o vice-presidente do Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família (Imesf), Fernando Ritter, a Capital solicitou para o programa um total de 213 profissionais, mas até agora só 21 pessoas se apresentaram. Eles serão destinados à periferia da cidade, terão carga horária oito horas, receberão uma bolsa de R$ 10 mil do Ministério da Saúde, auxílio-moradia de R$ 1,5 mil e auxílio alimentação de R$ 371.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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