Compartilhado por Moze Barbo.
Day: 2 de setembro de 2013
O direito à cidade nas manifestações urbanas: entrevista inédita com David Harvey
O geógrafo britânico David Harvey é um dos pensadores mais influentes da atualidade. Unindo geografia urbana, marxismo e filosofia social na compreensão das contradições do mundo contemporâneo, sua obra é um forte eixo de renovação da tradição crítica e ganha especial relevância num contexto de explosão de movimentos contestatórios urbanos no Brasil e no mundo.
Nesta entrevista, traduzida em primeira mão pelo Blog da Boitempo, Harvey discute as manifestações que tomaram as ruas do Brasil a partir de junho e os desafios para a organização de mobilizações urbanas de amplo escopo, assim como o lugar das novas tecnologias e dos movimentos sociais. À luz do urbanismo privatizado e securitário de Londres, o geógrafo comenta a importância do debate sobre o direito à cidade e os desafios de se pensar uma cidade anti-capitalista. Traçando paralelos com revoltas urbanas ao redor do globo, da China a Istambul, ele esboça, inclusive, acréscimos a sua obra mais recente, que dá nome e inspira o livro de intervenção Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil, que a Boitempo acaba de lançar analisando as causas e consequências das ditas “Jornadas de Junho”, e com o qual Harvey contribui como autor. (mais…)
A nudez por trás do jaleco
O que as agressões contra os médicos cubanos revelam sobre o (não) debate da saúde pública?
A cena de um grupo de médicos cearenses vaiando os médicos cubanos, vários deles negros, que chegaram ao Brasil para ocupar postos em lugares onde os brasileiros não querem ir, é uma vergonha. Mas é bem mais do que uma vergonha. A trilha sonora da manifestação – “escravos”, “incompetentes” e “voltem para a senzala” – é reveladora de como os membros de uma carreira de elite olham para si mesmos – e se veem “ricos e cultos”, como gritaram médicos numa manifestação anterior – e de como a população que depende do SUS (Sistema Único de Saúde) é vista por parte daqueles que têm por dever lhe dar assistência. Dá pistas, especialmente, sobre a tensão social que existe nos corredores dos serviços de saúde pública, que é também uma tensão racial e de classe.
O espetáculo de racismo e de xenofobia da semana passada tornou ainda mais evidente o baixíssimo nível do embate em torno do programa Mais Médicos. Como tem acontecido no Brasil em questões fundamentais, a polarização só serve para calar a possibilidade de um debate sério, responsável e com a profundidade necessária. Neste caso, com o governo federal, de um lado, e as entidades corporativas dos médicos, no extremo oposto, o país perde uma oportunidade de discutir o tema urgente da saúde pública, cujas omissões e deficiências têm mastigado – objetiva e subjetivamente – a vida de milhões de brasileiros. E aqui desponta um silêncio eloquente: cadê a voz das pessoas que dependem do SUS nessa discussão? (mais…)
Carta das Lideranças Terena
Conselho do Povo Terena (Hanaiti Hó’unevo Terenoe)
Aldeia Cabeceira, Terra Indígena Nioaque
Nós, lideranças Terena reunidas no dia 30 de agosto de 2013, na Aldeia Cabeceira – Nioaque/MS, por ocasião da reunião realizada no Ministério da Justiça, no dia 27 de agosto do corrente, em Brasília, viemos a público expor:
Não iremos mais tolerar reuniões para marcarem outras reuniões!
Enquanto o Governo Federal nos enrola marcando reunião de 15 em 15 dias, a bancada do agronegócio continua articulando proposições no Congresso Nacional para tirar os nossos direitos, tais como PEC 215 e PLP 227.
No próximo dia 04 de setembro de 2013, está na pauta do Congresso Nacional a instalação da Comissão Especial da PEC 215, e nós, lideranças indígenas não iremos aceitar mais esta imposição contra os nossos direitos.
Iremos dar uma resposta à altura, caso seja instalado a Comissão Especial da PEC 215!
Enquanto estamos nas mesas de negociações esperando o Governo demarcarem nossos territórios, os ruralistas não pararam com suas manobras anti-indígena.
Nós, POVO TERENA não iremos recuar! Estamos atentos a todas as manobras do Governo, no sentido de nos desmobilizar. (mais…)
MPT-MA cobra mais segurança em fábrica da Suzano em Imperatriz
Ação requer R$ 50 milhões por dano moral coletivo. Problemas comprometem ainda mais a integridade dos trabalhadores
Do G1 MA
O Ministério Público do Trabalho no Maranhão (MPT-MA) ajuizou uma Ação Civil Pública (ACP) contra a Suzano Papel e Celulose e as empresas contratadas para construir a sua fábrica em Imperatriz. Além de cobrar mais segurança no ambiente de trabalho, a ação requer R$ 50 milhões por dano moral coletivo.
Para construir o empreendimento de celulose em Imperatriz, a Suzano contratou a Metso Paper South America Ltda, empresa finlandesa incumbida do fornecimento de engenharia conceitual e equipamentos, que, por sua vez, contratou a Imetame Metalmecânica Ltda, do ramo da fabricação, montagem e manutenção industrial. (mais…)
Se ouvir “Eu não sou preconceituoso, mas…”, corra para longe
Eu não sou preconceituoso, mas…
Esta frase é deliciosa. Não é um aviso de “olha, não encare isso como preconceito”, mas um alerta. Do tipo “segura, que lá vem um preconceito”. A ressalva, completamente inútil, serve, pelo contrário, para reforçar que a pessoa em questão é exatamente aquilo pelo qual não gostaria de ser tomada.
Cultivamos nosso medo e ódio, mas, às vezes, pega mal expressá-los em público assim, tão abertamente. Porque pode ser visto como crime ou delito. Ou ser alvo de críticas – mesmo que os críticos compartilhem da mesma visão de mundo. E, além do mais, como todos sabemos, o Brasil é o país da alegre miscigenação, em que todos são considerados iguais em direitos. Os que discordam disso devem se mudar ou levar um corretivo para deixarem de serem bestas. É isso: ame-o ou deixe-o. (mais…)
Deserto verde em expansão no Paraná. Entrevista especial com Roberto Martins de Souza
“Ao contrário do que anuncia o setor de papel e celulose, sua presença não implica em melhoria nas formas de vida locais. Por quanto esse padrão de acumulação capitalista drena há décadas toda a potencialidade econômica e social local para permitir a construção de um modelo que segue as pegadas de nossa matriz colonial, ainda que se aproprie do discurso da modernidade e da sustentabilidade”, afirma o pesquisador
IHU Online – Os 900 mil hectares de eucalipto e pinus plantados no Paraná equivalem, “em termos comparativos”, “a duas vezes as áreas dos assentamentos de reforma agrária conquistados através da luta dos movimentos sociais do campo entre 1980 e 2011 no estado do Paraná, onde vivem pouco mais de 18.000 famílias camponesas, produzindo alimentos, conservando os recursos naturais, gerando empregos e preservando a rica cultura dos povos do campo e suas formas de organização social”, diz Roberto Martins de Souza à IHU On-Line, em entrevista concedida por e-mail.
Segundo ele, o chamado deserto verde “tem provocado mudanças significativas e impactantes em comunidades camponesas da região, como: substituição de áreas de produção de alimentos da agricultura camponesa por madeira, secagem de fontes e cursos d’água, diminuição da biodiversidade e acelerado o êxodo rural na medida em que gradualmente confina os camponeses em suas comunidades”. (mais…)
A ditadura anti-indígena no Congresso
“Uma semana de anunciados embates e debates da questão indígena no Congresso por conta dos direitos indígenas, especialmente a terra. O agronegócio parece não sossegar até não rasgar com a constituição, os direitos indígenas. Serão muito importantes as manifestação e solidariedade dos aliados dos ovos indígenas”, escreve Egon Heck, CIMI-MS, ao enviar o artigo que publicamos a seguir. Eis o artigo
IHU On-Line – “Com relação ao roubo da relatoria do projeto da criação do Conselho Nacional de Política Indigenista, cuja relatoria estava com a deputada Janete Capiberibe, o deputado Goergen-PP-RS assim se justificou:
— “Agora, mesmo que eu não tivesse consultado, regimentalmente posso fazer isso (destituir qualquer relator e avocar para si a relatoria). Como presidente da comissão tenho a condição e poderes para designar e retirar depois. É competência do presidente. É meio ditatorial, mas é assim. Nomeio e desnomeio. Chega a ser grosseiro” (O Globo 27/08/13).
Na verdade essa é apenas uma manifestação da bancada anti-indígena no Congresso. Eles exigem, por exemplo, a instalação da comissão especial que irá agilizar a aprovação da PEC 215. Essa ação contra os direitos indígenas está prevista para o dia 4 de setembro. (mais…)
Gás de xisto no Brasil: receita para um desastre ambiental
Suzana M. Padua* – O Eco
Escrevo sobre o “gás de xisto” por perceber a gravidade da questão, se não tratada com o devido cuidado.
Participei no início de junho desse ano, do 18o Congresso Brasileiro de Direito Ambiental, em São Paulo, organizado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde. Em uma mesa composta por profissionais de diversas áreas, foram debatidos temas referentes a licenciamento, ética, sustentabilidade e participação pública. Um dos palestrantes, Luiz Fernando Scheibe, Geólogo, Professor Emérito da Universidade Federal de Santa Catarina e Coordenador do Projeto Rede Guarani/Serra Geral, expôs os perigos de um processo que parece avançar sem a divulgação e os passos que garantam a precaução para a proteção de uma das maiores riquezas de nosso país nos tempos atuais: a água. (mais…)
Porque Comitês pela Desmilitarização?
União – Campo, Cidade e Floresta
A discussão sobre a desmilitarização é uma pauta urgente e necessária, os números da violência policial e a atuação seletiva da polícia remonta sua estruturação do período da ditadura militar que faz permanecer a doutrina legal e estrutura de guerra ao inimigo.
O Tribunal Popular, desde sua origem em 2008, tem discutido e denunciado a violação dos Direitos Humanos por parte do Estado, que nesse último período tem se utilizado indiscriminadamente de aparato repressivo, para criminalizar cada vez mais a população empobrecida pelo capital e em particular a juventude negra e indígena, moradoras das periferias.
Muitas foram as iniciativas no sentido de cobrar e pressionar o Estado brasileiro, tendo como um dos principais marcos a origem do Movimento Negro Unificado (MNU), que nasce para denunciar a violência policial e institucional contra a população negra. (mais…)