Os índios que ‘Geisel’ Hoffmann diz que não existem

charge gleiselPor Ruy Sposati, em Campanha Guarani

Há um ano, caciques e lideranças Ava-Guarani do oeste paranaense se reuniram para tratar dos problemas de suas comunidades. Demarcação de terras, saúde e educação estiveram no centro das preocupações. No encontro, foram definidas diretrizes e reivindicações encaminhadas ao Poder Público.

De lá para cá pouco ou nada mudou na vida dos Guarani; ao contrário, a situação de vulnerabilidade às violências, insegurança alimentar e violações aos direitos indígenas se intensificaram. Sem acesso aos direitos mais básicos, como água potável e saneamento, além da paralisação dos procedimentos de demarcação, comunidades vivem em espaços reduzidos e chegam a passar fome. (mais…)

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Angola: assédio judicial contra o defensor de direitos humanos e jornalista Rafael Marques após a publicação de livro sobre corrupção e tortura

Rafael Marques de Morais
Rafael Marques de Morais

Por Front Line Defenders

O jornalista e defensor dos direitos humanos Rafael Marques de Morais foi intimado a apresentar-se para interrogatório no 23 de julho de 2013, em Luanda, em conexão com onze processos iniciados contra si após a publicação em 2011 do seu livro “Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola”.

Rafael Marques de Morais é um proeminente jornalista e defensor dos direitos humanos angolano, cujo trabalho é centrado na investigação e denúncia de atos de corrupção e violações dos direitos humanos, em particular nas zonas diamantíferas. Ele também é o fundador e diretor do Maka Angola, uma iniciativa dedicada à luta contra a corrupção e à promoção da democracia em Angola. Seu livro “Diamantes de Sangue” publicado em 2011 documenta dezenas de casos de assassinatos, centenas de casos de tortura, deslocamento forçado e intimidação contra aldeões e garimpeiros nos municípios de Cuango e Xá-Muteba, na província da Lunda-Norte, Angola.

Aos 17 de julho de 2013, Rafael Marques foi notificado apresentar-se para interrogatório acerca de um total de onze processos simultaneamente instaurados contra si. Um dos processos (sob no. 58/2013) é resultado de queixa-crime apresentada pelos sócios civis e gestores da Sociedade Mineira do Cuango e ATM-Mining, reportados no livro “Diamantes de Sangue”. O defensor dos direitos humanos figura como arguido em todos os onze processos, e no processo registado sob o no. 58/2013, é simultaneamente arguido e assistente. (mais…)

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MG – Carta da 17ª Romaria da terra e das águas de Minas Gerais e 9ª Romaria do/a Trabalhador/a Rural da Diocese de Leopoldina

Enviada por Frei Gilvander Luís Moreira para Combate Racismo Ambiental

Nós, romeiros e romeiras, do campo e da cidade, do Estado de Minas Gerais, reunimo-nos na cidade de Miradouro, Diocese de Leopoldina, Zona da Mata Mineira, para celebrar a 17ª Romaria da terra e das águas do estado de Minas Gerais e a 9ª Romaria do/a Trabalhador/a Rural da Diocese de Leopoldina.

Anunciamos os projetos de vida, em sintonia com o Evangelho de Jesus Cristo, e denunciamos os projetos de morte que afligem o povo e o meio ambiente.

O compromisso com o Evangelho da Vida para todos – que gera esperança -, a fidelidade ao Deus dos pobres, aos pobres da terra e de Deus, nos convoca à reflexão sobre a realidade, ouvindo os clamores que vêm dos campos, dos camponeses, das cidades e do povo urbano. Em sintonia com os clamores do povo mineiro, em especial, as juventudes do campo e da cidade, escolhemos o Tema: Juventude no campo e na cidade, e o Lema: Defendendo nosso chão, nossa gente e a criação.

Denunciamos como projetos de morte a concentração de terras nas mãos de poucos, a privatização da terra e das águas, a monocultura de eucaliptos, da cana de açúcar, da soja e do capim. Nenhuma monocultura presta. Todas oprimem, violentam e devastam socioambientalmente. Denunciamos o modelo de sociedade capitalista, excludente, baseado na propriedade privada dos meios de produção, o que serve para legitimar a concentração de terra nas mãos de uma minoria, trazendo muito sofrimento e injustiças principalmente para as populações tradicionais que são expropriadas de suas terras, pela grilagem que continua desde o processo latifundiário das capitanias hereditárias até nossos dias com seus projetos grandes e monstruosos de barragem atingindo gravemente as comunidades tradicionais, os pescadores artesanais, extrativistas, camponeses e agricultores familiares. (mais…)

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Marcadas para morrer: conheça as histórias de Graciete, Cleude e Nicinha

A líder começou a lutar por terra aos 10 anos, numa marcha do MST; aos 22, ouviu de um pistoleiro que só conseguiria terra debaixo dela
A líder começou a lutar por terra aos 10 anos, numa marcha do MST; aos 22, ouviu de um pistoleiro que só conseguiria terra debaixo dela

Por Ismael Machado, Diário do Pará/ Agência Pública

Cleude, com medo, tenta pegar na mão de Deus

Não é fácil encontrar Cleude Conceição. É preciso enfrentar a poeira e os buracos da rodovia Transamazônica, saindo de Marabá e indo em direção a Itupiranga, municípios ao sudeste do Pará. São 27 km vencidos com dificuldade até se alcançar um travessão que liga à localidade de Jovem Creane. A partir daí são mais 22 km em uma estradinha de terra estreita e tortuosa, marcada por pequenas pontes.

Quando a reportagem chega ao pequeno vilarejo, quase quatro horas depois de ter saído de Marabá, precisa esperar ainda por Conceição, que está pescando. Ela chega uma hora mais tarde, trazendo duas pequenas piranhas e um surubim, resultado da pescaria. Aos 30 anos, é uma mulher magra, pequena, negra, de natureza desconfiada. (mais…)

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CEBs e Pastorais Sociais, duas paixões de padre Roberto, por Frei Gilvander Luís Moreira

Por Frei Gilvander Luís Moreira*, para Combate Racismo Ambiental

Divinópolis, em Minas Gerais, se tornou cidade do divino, da luz e da força divinas, também porque é terra de Adélia Prado e do padre Roberto. Este enquanto viveu, no meio do povo, a partir dos pobres, semeou amor e paixão pelas Comunidades Eclesiais de Base e pelas Pastorais Sociais. Unindo-nos no mutirão que visa recordar os ensinamentos e a práxis de padre Roberto, peço licença para falar um pouco de duas grandes paixões do padre Roberto: as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e as Pastorais Sociais.

Padre Roberto amava animar a caminhada do povo interpretando a Bíblia de forma libertadora. As CEBs, paixão de padre Roberto, são também continuadoras das primeiras comunidades cristãs narradas no livro de Atos dos Apóstolos.

A partir do livro de Atos dos Apóstolos, podemos dizer que as CEBs, tão incentivadas por padre Roberto, têm como pais e mães o grupo dos Helenistas. Estes eram judeus cristãos de língua e cultura grega, residentes em Jerusalém (provavelmente originários da diáspora), grupo profético, crítico em relação à Lei e ao Templo; são também os perseguidos e dispersados no dia da grande perseguição contra a igreja de Jerusalém, depois do martírio de Estevão (At 8,2), um dos sete diáconos. Os Helenistas formam um grupo missionário cheio do Espírito Santo, que “leva” – melhor dizendo, percebe o reino já acontecendo – o Evangelho aos samaritanos e aos gentios, construindo modelos diferente de ser Igreja. Depois da morte de Estêvão, um dos primeiros mártires entre os cristãos, os Helenistas se dispersaram, mas os apóstolos ficam (At 8,1). Nesta dispersão eles cumprem a ordem de Jesus em 1,8 (o que os apóstolos não fizeram): testemunhar o evangelho por toda parte até os confins do mundo. Eles anunciam a palavra por toda à parte: Filipe, aos samaritanos e ao eunuco etíope (At 8,5-40); outros do mesmo grupo, aos gregos (At 11,19-21). (mais…)

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Aty Guasu, a grande assembleia dos povos Guarani e Kaiowá em Mato Grosso do Sul discutirá problemas fundiários e demais violações aos seus direitos

pyelito_kue01Roberto Antonio Liebgott, missionário do Cimi

Nos dias 23 a 28 de julho as lideranças políticas e religiosas das comunidades Guarani e Kaiowá de Mato Grosso do Sul se reunirão na Aldeia Jaguapiru, em Dourados, em mais uma Aty Guasu. O objetivo é discutir os principais problemas que afetam a vida das comunidades e traçar estratégias para enfrentar o quadro de violências e o desrespeito aos seus direitos territoriais. Autoridades responsáveis pela condução da política indigenista do país foram convidadas e, destes, as lideranças esperam ouvir propostas concretas, em resposta às reivindicações apresentadas ao longo dos últimos anos, especialmente aquelas relativas às demarcações das terras e ao combate às violências.

Nos últimos anos, os povos indígenas em Mato Grosso do Sul sofrem com a omissão do governo federal no cumprimento das determinações constitucionais e com a morosidade nos procedimentos administrativos que lhes garantiriam a demarcação, posse e usufruto das terras. A postura negligente do governo gerou uma brutal ofensiva dos setores ligados ao agronegócio contra os povos indígenas. As violências contra a pessoa são uma constante em Mato Grosso do Sul e submetem as lideranças a uma condição de vulnerabilidade. Há, para além dos ataques contra a pessoa (que são muitos), um tipo de violência simbólica sustentada na discriminação e no preconceito, disseminada na sociedade e constantemente realimentada pelos meios de comunicação. O clima é de tensão porque os indígenas acabam sendo vistos como “inimigos de estado e do desenvolvimento”. De um modo geral, se entende que as formas de vida dos “índios” são signos de atraso e, por conseguinte, eles são discriminados por não aderirem aos princípios e regras pactuadas numa sociedade concorrencial, centrada no individualismo e no “progresso”. (mais…)

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“Fogo das ruas sacode a política institucional”

“A disputa continua: de onde vai sair a grana para a Tarifa Zero nos governos da direita? E os governos do PT e base aliada? Vão se mexer e promover logo a Tarifa Zero com ônus para os ricos”? O comentário é de Simara Pereira e Victor Khaled, integrantes do  Movimento Passe Livre de Florianópolis em artigo publicado por CartaCapital

Em 17 de julho, Edson Moura Junior (PMDB) anunciou a implementação da Tarifa Zero no sistema de transporte coletivo de Paulínia, a partir de 1º de outubro, sendo a primeira cidade da Região Metropolitana de Campinas a adotar a medida.  A Prefeitura abolirá a tarifa, que custa um real, subsidiando integralmente o custo do sistema. É isso: Tarifa Zero, simples assim. Que venham vários a reboque.

A disputa continua: de onde vai sair a grana para a Tarifa Zero nos governos da direita? E os governos do PT e base aliada? Vão se mexer e promover logo a Tarifa Zero com ônus para os ricos? Seria a chance de mostrar que ainda têm elementos classistas? Será que nas cinzas da proposta de distribuição da renda urbana, defendida lá em 90, pelos idealizadores do projeto Tarifa Zero, restaram brasas, que, como diria Adoniran Barbosa, podem se “acender de novo”? (mais…)

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Junho 2013. Um olhar estrangeiro

Há anos, o americano James Green se dedica ao ensino de história do Brasil na Universidade Brown, um dos principais núcleos estrangeiros de estudos sobre o país. Há cerca de um mês, ele desembarcou no Rio para o que seria apenas mais um simpósio internacional, na Fundação Casa de Rui Barbosa, mas foi surpreendido pela magnitude das manifestações de rua que tornariam junho um mês histórico, com milhares de pessoas mobilizadas por diferentes demandas em 12 capitais. Green não teve dúvidas: com as atividades da conferência suspensas um pouco mais cedo, decidiu ouvir de perto as vozes das ruas, junto com um grupo de estudantes de Brown e da Universidade Princeton. Foi para o Largo São Francisco, de lá caminhou até a Candelária e chegou à avenida Presidente Vargas. “Eu queria sentir na pele e [ver] na prática quem estava lá”, diz

Vanessa Jurgenfeld – Valor

Assim como Green, outros brasilianistas passaram pelo país nos últimos dias. O historiador Bryan McCann, da Universidade Georgetown, veio no início de junho e o economista Werner Baer, da Universidade de Illinois, chegou há cerca de 15 dias. Aproveitando as férias de verão nos Estados Unidos e o recesso das aulas, visitaram o Brasil para tocar pesquisas sobre assuntos como favelas no Rio e infraestrutura. Depararam-se, porém, com as manifestações, e agora tentam interpretar suas causas e possíveis consequências. (mais…)

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Francisco e a Papalatria, artigo de Roberto Malvezzi* (Gogó)

Foto: Tomaz Silva/ABr
Foto: Tomaz Silva/ABr

EcoDebate – Francisco é bem-vindo. O Papa que deu um rosto humano ao papado surpreende e deve surpreender novamente. É difícil imaginá-lo cumprindo o ritual dos anteriores sem tentar algum gesto, alguma palavra que confirme a grife de seu papado.

Essas Semanas Mundiais da Juventude tem origem nos papados anteriores e vinham na lógica de reforçar a autoridade central do Papa. Era a época da volta da grande disciplina, hierarquizada ao extremo, com o Papa mandando nos bispos, os bispos nos padres, os padres nos leigos e os leigos – como dizia o Orbe Católico de Brecht – rodeados pelos cachorros, galinhas e porcos. Claro que a metáfora era referenciada num mundo ainda rural, não esse agora da internet, das redes sociais, das multidões nas ruas. Mas, João Paulo II era tipo popstar e assim desejava encontrar-se com a juventude mundial.

O resultado dessa “igreja referenciada em si mesma” – na verdade a hierarquia referenciada em si mesma – como já dizia o próprio Francisco, deu no que deu, isto é, “uma igreja doentia”. Por isso, não há dúvida que ele quer uma igreja mais dos pobres para os pobres e vai envidar todos os esforços para que seus gestos pessoais e as estruturas eclesiais sejam mais adequadas ao seu projeto de Igreja. (mais…)

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