O estudo da equipe liderada por Britaldo Soares-Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais, na revista da Academia Nacional de Ciência dos EUA, acrescenta um grão de dúvida sobre o ponto nevrálgico da usina de Belo Monte: sua eficiência
Marcelo Leite – Folha de S. Paulo
A perda adicional de energia prevista no trabalho torna mais plausível a ideia de construir outras barragens no Xingu, de modo a aproveitar melhor seu potencial. Para isso, seria preciso revogar decisão de 2008 do Conselho Nacional de Política Energética de que Belo Monte seria a única usina no rio.
No cerne da questão está a sazonalidade do Xingu. Da estação chuvosa para a seca, a vazão da bacia cai 90%, de 20,8 mil m3 para 1.280 m3.
Sem um reservatório de grande porte – são 500 km² – para armazenar água e manter a geração de eletricidade na estiagem, Belo Monte só garantiria, na média, 40% da energia registrada como capacidade instalada, 11.233 megawatts (MW). Pelo projeto anterior, um colar de barragens alagaria 18 mil km² para gerar cerca de 20 mil MW.
Se se revelar correta a predição do estudo de que o desmatamento na região pode reduzir a vazão ainda mais, a geração de energia cairia para meros 25% da capacidade instalada, no pior cenário.
O custo de construção de Belo Monte já ronda os R$ 30 bilhões. Se antes havia suspeitas quanto à rentabilidade da usina, a possibilidade aventada no estudo da “PNAS” vem reforçá-las.
Não é arriscado prever que sairá robustecida a convicção, entre ambientalistas, de que o aproveitamento hidrelétrico do Xingu não se resumirá a Belo Monte. Mas, antes, é prudente verificar se mais especialistas concordarão com as projeções do artigo.