Por Fábio Pena – Rede Mocoronga
A pedido do Ministério Público Federal, a Polícia Federal fez hoje, 27/03, uma diligência na Aldeia São José III, onde o corpo do Cacique Crisomar dos Santos Costa, 60 anos, foi encontrado morto um dia antes. O cacique estava desaparecido desde o último sábado, 23, o que gerou muita preocupação na comunidade e a mobilização de lideranças e organizações que apoiam as causas indígenas na região.
A PF ouviu familiares e percorreu os possíveis lugares onde Crisomar teria estado no dia de seu desaparecimento. “Do que a gente apurou até o presente momento, tudo indica que pode ter sido um acidente, ter feito água no bote e ele ter se afogado por conta disso, declarou o delegado Gersivaldo Vasconcelos Ferreira à nossa reportagem em São José III.
Familiares contaram que Crisomar teria ido a um pequeno comércio que fica próximo à comunidade para pagar uma dívida. Um tempo depois dele sair do local, o proprietário e um frequentador do estabelecimento teriam visto a canoa do cacique semi-alagada, com o remo e uma sandália dentro. Eles, porém, não teriam avisado a família, que já estava em busca do desaparecido.
“Passei duas noites procurando meu irmão nesse rio. Me apavorei, sem dormir, sem comer nada. E só na manhã de ontem é que conseguimos achar o corpo”, conta o irmão do cacique, Josiclei dos Santos Costa. “Ele era meu único irmão, e eu sempre estava ao lado dele no trabalho comunitário. E eu agora não vou mais ter meu irmão ao meu lado” lamenta aquele senhor com a voz embargada.
Dona Gersineide Lopes Costa, esposa de Crisomar, lembra que ela e o marido sofriam ameaças de morte desde 2010, que continuaram principalmente quando a comunidade resolveu impedir a exploração da madeira no seu território.
“Me ameaçaram de morte em 2010 e depois disso foi meu marido. Ele foi armado de rifle até na casa de um compadre onde meu marido estava, para ameaçar. Depois rodeava nossa casa. Tinha a ver com madeira, um senhor que morou aqui um tempo, tirava atrás da área indígena para vender para as empresas que compravam por aqui. O pessoal da comunidade veio pedir pro meu marido ir ver. E ele foi até lá ver no mato essa madeira. E ai começaram as ameaças. Por isso que ficamos preocupados por causa de não sabermos se a morte dele poderia ter alguma coisa com essas ameaças que ele vinha sofrendo” conta Gersineide.
Mesmo declarando como mais provável a hipótese de afogamento acidental, o delegado Gersivaldo Ferreira explicou que “há um fator dificultador pelo fato ter ocorrido de sábado para domingo, e o corpo ter sido encontrado somente ontem (terça). Quando chegamos, o corpo já havia sido enterrado porque os familiares decidiram, por conta da deterioração do corpo. E a gente vai ter que ver como viabilizar um exame necroscópico, para poder comprovar se realmente não houve violência. Nós vamos analisar, provavelmente seja necessário uma exumação do corpo”. Se o exame for realizado, o que dependerá da família e das autoridades, o caso poderá ser melhor esclarecido.
As organizações que estiveram na comunidade hoje, entre elas o Projeto Saúde & Alegria, ressaltam a importância da mobilização social criada em torno do fato, o que demonstra que a sociedade está atenta, uma vez que os casos de morte no campo tem sido crescentes no Estado do Pará, e a região de Nova Olinda é uma das que merecem atenção especial em função do histórico de conflitos.
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Cacique Crisomar da terra indígena Maró é encontrado morto
Por Fábio Pena – Rede Mocoronga (26/03/2013)
O cacique Manoel Crisomar dos Santos Costa, 60 anos, da Aldeia São José 3 na região da Gleba Nova Olinda, no Rio Maró, em Santarém/ PA foi encontrado morto dia 26/03 em igarapé nas proximidades de sua aldeia. Ele estava desaparecido desde o último sábado, dia 23, quando, segundo familiares, saiu para visitar parentes que moravam no outro lado do rio da comunidade.
Com a demora em sua volta, seus parentes iniciaram as buscas para encontrá-lo. Após horas percorrendo a região da comunidade, a canoa que ele usava habitualmente foi avistada, e um pouco mais à frente, estava o corpo do cacique.
Popularmente conhecido como Tracajá, Manoel Crisomar foi uma liderança forte que lutava pela união da comunidade, pela preservação de suas tradições e da floresta em que vivia. Foi lutador incansável pela criação da Terra Indígena Maró, que já passou pelo processo de identificação (reconhecimento da etnia Arapium) e delimitação da área a ser demarcada, na região conhecida como Gleba Nova Olinda.
Em função da luta das comunidades pela criação da terra indígena, a região vive momentos de tensão e conflitos que envolvem lideranças comunitárias e empresas interessados na exploração da madeira na região. Algumas lideranças foram ameaçadas, como Odair Borari, da Aldeia Novo Lugar, que anda com escolta policial.
Não se sabe as causas da morte, mas por se tratar de uma região conflituosa, e por envolver um liderança indígena, o Ministério Público Federal solicitou que a Polícia Federal investigasse as causas da morte. Uma equipe da PF e do Instituto Médico Legal deve seguir amanhã para a comunidade para apurar os fatos.
Uma equipe do Projeto Saúde & Alegria e outras organizações sociais de Santarém também segue amanhã para São José para prestar solidariedade à família e à comunidade e acompanhar a apuração.