Presidente Castelo Branco é como se chama a avenida na qual se situa o prédio do antigo Museu do Índio (que, por sua vez, abrigava até a manhã de hoje a Aldeia Maracanã). Posso dizer que é um nome que combina muito com as arbitrariedades que vi por lá hoje, perpetradas a mando do governador Sergio Cabral Filho. É até difícil elencá-las, mas vou tentar.
O Batalhão de Choque da Polícia Militar cercou o local às 3 horas da madrugada. Ao longo da manhã era possível ver dois Caveirões estacionados e helicópteros sobrevoando a Aldeia. Daí vem algumas perguntas: por que cercar o local na calada da noite, se operações do tipo só podem ser realizadas, por lei, a partir das 6 horas da manhã? Por que levar dois caveirões, se eles não seriam utilizados (ou alguém acha que iam invadir o terreno com eles?)? Por que helicópteros fazendo voos rasantes, se eles sequer seriam utilizados durante a invasão? A resposta é só uma: para causar terror.
As arbitrariedades não param por aí. Basta citar, por exemplo, que Modesto da Silveira, histórico advogado de presos políticos da ditadura brasileira, foi agredido por policiais (algo que não ocorreu nem na ditadura, quando Modesto foi detido mas teve sua integridade física respeitada). Ou então que oito policiais o imobilizaram, agrediram e prenderam o advogado dos indígenas. Ou então que um grupo não muito menor de policiais imobilizou, arrastou e prendeu uma manifestante grávida. Ou que uma criança indígena de três anos de idade foi atingida por gás de pimenta diretamente no rosto.
Os indígenas que continuavam na Aldeia estavam dispostos a sair pacificamente do local. Ainda assim, o Choque procedeu com a invasão, garantindo, como de costume, fartura de bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo. Os manifestantes que estavam na rua e tentaram fechar a famigerada avenida também foram atacados com grande quantidade de gás de pimenta, bombas de efeito moral e cassetetes.
Durante a fuga do Choque, que implacavelmente perseguia os manifestantes, muitos tentaram se refugiar na UERJ. Em vão: os portões foram fechados e os funcionários estavam proibidos de deixar qualquer um entrar (algo que também não ocorreu nem na ditadura). Foi preciso que o Renato Cinco interviesse para que liberassem a entrada.
Fico me perguntando: de fato nos livramos do regime ditatorial? O nome da avenida e perpetuação de uma lógica autoritária de segurança pública me fazem crer que não. Estamos diante de um arremedo de democracia. Mas isso não me desanima, muito pelo contrário: só me dá mais vontade de seguir na luta por um mundo onde a liberdade seja mais que um verbete no dicionário.
Será possível conseguir uma liminar? algo p adiar a demolição, prazo p divulgar e revertter esse absurdo. OAB? Condephat? ONU? FIFA? apoios…é um incrível patrimônio histórico…