A informática

Quanto caminho tecnológico percorrido desde a infância da humanidade!

Em apenas alguns milênios  nós passamos do sílex ao silício.

O homo sapiens desenvolveu ferramentas cada vez mais complexas e performantes. Nós temos hoje computadores capazes de manipular um grande número de dados  com velocidade. Ninguém pode negar as extraordinárias possibilidades oferecidas por esta ferramenta.

No entanto, uma consequência inesperada do uso da informática é geralmente subestimada ou completamente ignorada. O interesse geral pelas tecnologias oriundas da era digital (principalmente as tecnologias ditas da comunicação) esconde esta consequência.

Aos poucos, nos tornamos dependentes destas máquinas, e nossas próprias conexões neuronais destinadas à varias tarefas caíram em desuso. Nós delegamos estas tarefas ao computador. Hoje, os cálculos mais simples como devolver o troco ou adicionar os preços de cada item de uma compra só são resolvidos com a ajuda de uma calculadora.

Nosso cérebro tem a particularidade de se transformar constantemente. As conexões que não são usadas são simplesmente destruídas  enquanto outras são construídas conforme as necessidades. Nossas capacidades mentais dependem diretamente do número de conexões existentes entre as células nervosas. Um dos assuntos da pesquisa sobre a “inteligência artificial” é precisamente de dar à máquina a possibilidade de criar novas conexões conforme as necessidades de cálculo. Tremendo paradoxo! Enquanto procuramos fabricar uma máquina “inteligente”, nós perdemos as nossas próprias capacidades intelectuais!

Antigamente, as escolas ensinavam o cálculo mental, os alunos precisavam memorizar poesias. O objetivo destes exercícios era simplesmente fazer funcionar o cérebro, lhe dar o maior número possível de conexões neuronais.

Atualmente, fazemos exatamente o contrário. Nós delegamos à máquina não só as tarefas simples, mas também todo o conhecimento. Não é raro o uso do “copiar-colar” num trabalho escolar ou universitário.

É evidente que nossas bibliotecas existem há muito tempo e que sua utilidade não está colocada em questão. É impossível armazenar no cérebro todo o conjunto do conhecimento humano. Mas só estocar este conhecimento num HD externo é perigoso. Desde então, nosso cérebro só serve para nos dar os meios de acessar à este conhecimento considerado como absoluto. Nossas faculdades de análise e nosso livre arbítrio derretem. O “copiar-colar” dispensa a análise, a pertinência e a compreensão dos dados em questão.

Não nos damos o trabalho de ler o conteúdo, basta “colar” e está feito.

Se um caso real de nossa vida cotidiana não for previsto pelo conceitor do programa, simplesmente não existe, é inútil querer resolvê-lo. Qualquer apresentação de um trabalho não pode mais ser feita sem a ajuda de um vídeo show que projeta na tela o texto que o palestrante lê…

A leitura, atividade nobre de nosso cérebro que usa um grande número de conexões neuronais, esta sendo esquecida. Estas conexões se perdem diminuindo nossas capacidades mentais.

A realidade alcança e ultrapassa a ficção imaginada há alguns anos. Big Brother não só nos observa constantemente, mas também nos dita o que devemos “saber”. O “pensamento” oficial está nos bancos de dados digitais. Esta uniformização impede qualquer contestação, nega a individualidade. Ela representa um totalitarismo extremo do qual somos cúmplices pelo fato de não fazer o menor esforço mental.

Compartilhada por Stéphan Munduruku Kaiowá.

http://www.homo-sapiens.org/br/informatica.php

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