Marcha com 400 mulheres criticou modelo de desenvolvimento do agronegócio
Kauê Scarim
Dando continuidade às atividades da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres, a Via Campesina realizou uma manifestação em Jaguaré, noroeste do Estado, contra a pulverização aérea de agrotóxicos nas lavouras da região, que tem histórico de contaminação de córregos, áreas protegidas, animais e seres humanos por uso de venenos.
A manifestação contou com 400 pessoas, sendo cerca de 80% mulheres camponesas. Em marcha, elas caminharam pelas ruas da cidade até a prefeitura de Jaguaré e Câmara de Vereadores. Os movimentos do campo cobram a criação de uma lei municipal em Jaguaré semelhante à de Vila Valério e Nova Venécia, proibindo a pulverização área de venenos.
Durante o percurso, foram distribuídos panfletos aos moradores alertando sobre os riscos à saúde gerados pelo uso de agrotóxicos e a importância da agricultura orgânica, que é livre de venenos.
Segundo Eliandra Rosa Fernandes, da coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), a manifestação conseguiu dialogar com a população e foi bem recebida, até porque são os moradores do local que mais sofrem com o uso abusivo de agrotóxicos.
Além do MST, também participaram do ato o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a Associação dos Programas em Tecnologias Alternativas (APTA), a Comissão Pastoral da Terra e integrantes das Escolas Famílias Agrícolas, todos movimentos integrantes da Via Campesina.
Eliandra Rosa explica que a pauta do movimento é mais ampla do que apenas a aplicação de venenos. “A briga não é contra a loja que vende ou o trabalhador que aplica o agrotóxico, mas sim contra o modelo de agronegócio e todos os males que ele representa para a população do País”, afirmou a camponesa.
Entre esses males, pode-se citar, além dos problemas de saúde e dos diversos casos de envenenamento, a concentração de terras, a violência no campo e a insegurança alimentar decorrente da falta de terras.
A Via Campesina, na manifestação, também levantou outras pautas, como o estímulo à produção orgânica, o enfrentamento à hegemonia do capital, modelo econômico que afeta de forma direta a realidade das mulheres ao impedi-las de sustentar suas famílias, e combate à destruição ambiental. O tema da Jornada, neste ano, é “Mulheres Sem Terra na luta contra o capital e pela soberania dos povos”.
Os manifestantes questionam, também, a atuação dos órgãos estaduais da área, como o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) e o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). Classificando como “urgente” a questão, Eliandra critica os órgãos, que atuam mais na defesa das grandes empresas do que na promoção da igualdade no campo.
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