Eu matei Denilson Kaiowá Guarani, por Egon Heck

Ao declarar-se autor do disparo que matou o jovem Denilson no tekohá Pindo Roky, município de Caarapó no dia 17 de fevereiro, o fazendeiro Orlandino, inaugura uma nova estratégia. Estaria ele apostando abertamente na impunidade? Se for essa uma nova estratégia do agronegócio porque não se apresentam os assassinos dos professores Genivaldo e Rolindo Vera? E declaram onde esconderam o corpo Rolindo? Porque não se apresentam os matadores do cacique Nisio Gomes e revelam onde ocultaram seu corpo? Porque não se apresentam os matadores de Julite, de Ortiz e dezenas de Kaiowá-Guarani nas últimas décadas? Será essa uma forma de despolitizar os crimes na luta pela terra?

O Deputado Ze Teixeira, que tem fazenda incidindo na terra indígena Guyraroká, declarou: “Ora, o senhor Orlandino já se apresentou à Polícia Civil e confessou que foi o autor do disparo que acabou tirando a vida do adolescente, então que ele responda pelos atos sem que isso sirva como justificativa para invadir a propriedade dele…. Não existe necessidade de proteger testemunha porque o crime já está esclarecido, o produtor se apresentou espontaneamente e está à disposição da Justiça” (O Progresso, 28-02-13).

Solidariedade nacional e internacional

Antes que fevereiro findasse e o papa deixasse definitivamente o Vaticano, uma delegação de mais de uma dezena de entidades nacionais e internacionais foram ao tekohá Pindo Roky para se inteirar pessoalmente dos fatos e prestar sua total e irrestrita solidariedade ao povo Kaiowá Guarani.

“A comitiva é composta pela Anistia Internacional, Justiça Global, Plataforma Dhesca Brasil, FIAN Brasil, Sesi, Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e Comissão Pastoral da Terra (CPT) que foi acompanhada de lideranças indígenas Kadiwéu, do Conselho Terena, do Conselho Continental da Nação Guarani e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)… O documento irá denunciar, em nível internacional, a execução do jovem Kaiowá pelo proprietário da fazenda no último dia 17, convocando governo e sociedade civil a defenderem de maneira intransigente o “direito à vida, à integridade física e mental, da liberdade e da segurança dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul”. Para as entidades, o crime e a realidade em que vivem os indígenas do estado representa uma situação de permanente violação dos direitos humanos, e de flagrante descumprimento da Constituição Federal e dos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário” (Midiamax, 27-02-13).

No manifesto Em defesa da Vida declaram “Diante da vergonhosa situação imposta a esses seres humanos, é necessário declarar que as entidades abaixo subscritas apoiam incondicionalmente a defesa da posse das terras tradicionais pelos povos indígenas, bem como apoiam a demarcação das terras indígenas e do amplo acesso desses povos aos recursos nelas existentes, única forma de colocar fim às violações de direitos e à violência contra que vem sendo imposta a esses povos, sendo urgente que o Estado brasileiro, através do governo federal assuma as obrigações constitucionais de respeitar, proteger e garantir a vida e os direitos humanos dos povos indígenas”. O manifesto é assinado pela Associação Juízes para a Democracia – AJD, Anistia Internacional no Brasil, Conselho Indigenista Missionário – Cimi, Conselho Federal de Psicologia – CFP, Coordenadoria Ecumênica de Serviços – Cese, Comissão Pastoral da Terra – CPT, Comissão Regional de Justiça e Paz – CRJP, Justiça Global – JG, Plataforma Dhesca Brasil, Rede de Informação e Ação pelo Direito a se Alimentar – Fian Brasil, Survival International e Comitê Nacional de Defesa dos Povos indígenas de Mato Grosso do Sul – CONDEPI.

A ousadia sem limites do agronegócio

Neste mês de fevereiro o bancada ruralista, do agronegócio deu mais uma mostra de suas insaciáveis intenções de impedir a demarcação das terras indígenas, expressa pela Kátia Abreu do CNA (Confederação Nacional da Agricultura) “Kátia Abreu, reuniu-se ontem (21/02), no Palácio do Planalto, em Brasília, com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, para pedir a suspensão dos processos de DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS até que sejam julgados todos os embargos declaratórios do caso RAPOSA SERRA DO SOL”.

O Parlamentar do Paraná, Nelson Padovani teve a brilhante iniciativa de propor um projeto de lei 237/2013 que torna possível a “posse indireta de até 50% das terras indígenas para produtores rurais, na forma de concessão”.

Delegações de políticos, ruralistas, sindicalistas rurais da região da fronteira, vieram a Brasília pedir providências, contra o que qualificam de invasões de paraguaios que se dizem índios e vem usufruir dos benefícios da cesta básica, e das ONGs de interesses escusos. Trata-se de iniciativas que visam dificultar o reconhecimento das terras e territórios dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul.

Povo Guarani Grande Povo, Cimi 1 de maço de 2013.

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=73920

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