Tania Pacheco – Combate ao Racismo Ambiental
Quarta-feira, dia 27 de fevereiro, um adolescente indígena de 15 anos saiu de casa às 13:30 horas; às 17, seu corpo foi encontrado, enforcado numa árvore à margem de uma estrada vicinal que corta a chamada Reserva Indígena de Dourados.
Segundo a reportagem do douradosagora, Aniceto Velasquez, liderança indígena, disse que “Ele vinha sofrendo porque há cerca de um mês perdeu o irmão, que foi brutalmente assassinado. O jovem estava com depressão e nós buscávamos uma maneira para resgatá-lo, mas não conseguimos a tempo”. E a fala continua, na matéria:
“Em novembro nós comunicamos a [sic] Fundação Nacional do Índio (Funai), assim como as [sic] forças de seguranças, mas ainda não vimos nada posto em prática. Precisamos de algo que controle o fornecimento de bebidas alcóolicas [sic], combata o tráfico e ofereça assistência social aos dependentes químicos e depressivos. Só assim evitaremos mais mortes”.
Na verdade, não se trata de um suicídio, mas de mais um assassinato. E atribuir aos “vícios indígenas” as diferentes formas de morte que acontecem no estado já virou clichê. A reportagem começa exatamente com essa afirmativa, aliás:
“Álcool e drogas são os grandes motivadores da violência na reserva indígena de Dourados, garantem líderes comunitários. Segundo eles, estes dois fatores, aliados à depressão, são os principais responsáveis pelo índice de homicídios e suicídios registrados nos últimos anos tanto na aldeia Jaguapirú, quanto na Bororó”.
Se os “líderes comunitários” garantem isso ou não é o de menos. Ainda que o fizessem, caberia esclarecer que a verdade não é bem essa. O álcool, as drogas e a depressão não chegam lá sozinhos. Muito mais importante que isso, entretanto, é discutir o que leva os indígenas da chamada Reserva de Dourados a a eles recorrerem, no seu desespero de ver seus direitos a uma vida digna, garantidos por leis nacionais e internacionais, sumariamente negados.
Na realidade, vamos dar nomes aos bois: estamos falando do Gueto de Dourados. De uma área de 3,5 mil hectares onde foram confinados, em condições para eles totalmente desumanas e não condizentes com suas culturas e tradições, cerca de 15 mil indígenas!
Uma declaração atribuída ao delegado regional Antonio Carlos Videira, na mesma matéria, deixa mais que claro o absurdo da situação:
“Quando se fala da reserva indígena é preciso levar em consideração aspectos culturais e históricos, por exemplo. De modo geral, a polícia vem fazendo trabalho de fiscalização nas aldeias, entretanto, esbarramos em algumas dificuldades que podem ser facilmente superadas se tivermos o apoio da comunidade. Uma delas é a ausência de nome nas ruas e logradouros. Isso dificulta a atuação de investigadores e atendimento à [sic] ocorrências”.
“Uma delas é a ausência de nome nas ruas e logradouros”! Que tal acrescentarmos também às tradições indígenas praças, avenidas e shopping centers?
A frase do delegado demonstra todo o respeito que as autoridades têm para com a cultura e o modo de vida indígenas. Afinal, por que esses “silvículas” não saem logo do caminho do agronegócio, da pecuária e dos grandes empreendimentos e vão morrer onde bem quiserem, sumindo finalmente do “mapa do progresso e do desenvolvimento”?!
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Abaixo, um pequeno vídeo encontrado na internet que mostra um pouco as condições de vida no Gueto de Dourados, cercado e envenenado pela monocultura de soja, além de tudo:
Realidade crua do BRASIL, dos Índios, não ficamos de braços cruzados, vamos divulgar, correr atrás, fazer algo em prol dos nossos irmãos indígenas.
Brasil sem rumo.