Denize Letícia Marcolino, 22 anos, será a primeira indígena formada na história centenária da UFRGS
Do Metro Porto Alegre
Da maior aldeia gaúcha para uma conquista inédita. A caingangue Denize Letícia Marcolino, 22 anos, torna-se amanhã a primeira indígena a conquistar um diploma de nível superior na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Ela receberá o certificado de enfermeira das mãos do reitor Carlos Alexandre Netto.
A formanda ingressou na universidade em 2008 pelo sistema de cotas. Deixou para trás a família na comunidade da Guarita, no município de Tenente Portela, na região noroeste, e que reúne uma tribo com cerca de 7 mil índios.
Denize, que nunca tinha pisado em Porto Alegre antes de ser aprovada no vestibular, decidiu estudar enfermagem a fim de mudar a realidade da aldeia onde morava com os pais e dois irmãos, a 600 quilômetros da capital. “Infelizmente, o atendimento lá ainda é precário”, afirmou. O hospital mais próximo à comunidade é na cidade de Redentora.
Ela será a primeira da sua comunidade a ter formação superior na área da saúde. Incentivada a se inscrever no vestibular da UFRGS por um amigo da aldeia, a jovem indígena comemorou a aprovação e a oportunidade de estudar. Desde então, ela conta que só pensou em dar o melhor de si para melhorar a situação do seu local de origem.
Por quatro anos e meio a formanda morou na casa do estudante da universidade. “O mais difícil, além da saudade da família, foi me adaptar. Foi um choque cultural. Tudo é diferente”, contou.
O futuro na aldeia
A rotina de Denize também teve de ser alterada na capital. “A minha vida mudou muito. Estudava de manhã, de tarde e à noite, quando chegava em casa. Foi muita cobrança, mas eu consegui”, sorri, orgulhosa. “E foi a melhor experiência que já tive”, acrescentou.
Após a conclusão do tão sonhado curso, a enfermeira deve voltar já na semana que vem para a aldeia Guarita, onde irá dar início oficial à carreira. “Levo comigo toda uma bagagem de aprendizado e amizades, inclusive meu marido, Josias, que conheci aqui na universidade”, disse.
A esperança da formanda é que, depois da sua volta e da repercussão da conquista, mais jovens de comunidades indígenas se inscrevam em um curso superior. “Quero que as pessoas possam acreditar que isso é possível”, finalizou.
Atualmente, 47 índios fazem cursos de graduação na UFRGS. Todos os anos, dez vagas são destinadas pelas cotas para estudantes indígenas.
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