Por si só, sistema de cotas não será eficiente

Por Estefano Alves Nascimento

As pessoas que discordam das cotas são em quase sua maioria formada por alunos ou pais de alunos de escolas particulares, que em pouco ou nada se importam com o debate político e social entorno das cotas. Importam-se apenas com seus próprios interesses e veem nas cotas uma dificuldade a mais de aluno da rede privada ingressar no ensino superior gratuito e de qualidade, e por esse e não outros supostos motivos são contra.

Argumenta-se muito em meritocracia, mas em um país tão desigual quanto o Brasil perde-se o sentido ao falar em meritocracia, porque não se pode tratar de forma igual os desiguais. Não se pode achar que um aluno pobre de periferia que estuda numa escola pública tem as mesmas oportunidades que um aluno oriundo do ensino privado. Quando se discute as cotas, deve se considerar dois aspectos. O primeiro é a existência de um imenso abismo social e econômico entre pobres e ricos e o porquê esse existe. E em segundo a qualidade do ensino público no Brasil.

Fato é de que no Brasil a pobreza passa de pais para filhos: pais pobres por não terem condições financeiras colocam seus filhos em escolas públicas, essas escolas por serem qualitativamente piores, formam mal  os alunos, esses alunos, por terem uma formação pior, não conseguem entrar em boas faculdades e consequentemente não terão os melhores empregos. Tendo os piores empregos serão mais pobres, colocarão seus filhos em escolas públicas, e assim, fechará um ciclo hereditário de pobreza.

Por esse aspecto, a política de cotas é uma medida extremamente democrática, porque cumpre a função social de quebrar o ciclo hereditário de pobreza no Brasil. Com as cotas igualam-se as oportunidades de alguém que historicamente foi pobre e que em condições normais continuaria pobre, com aqueles que têm melhores condições financeiras e que muitas vezes, podem pagar o ensino superior numa instituição privada. E isso é democracia.

Por outro lado, a educação pública no Brasil é extremamente deficiente. Os alunos saem  do ensino público sem o conhecimento acadêmico que deveriam ter. E ao impôr uma política de cotas de percentual elevado, se leva esses alunos sem o conhecimento necessário para cursar a faculdade.

E isso não é ruim apenas porque o nível da universidade cai, mas porque não se atinge os objetivos da política de cotas que é quebrar o ciclo hereditário de oportunidades e pobreza. Hoje, os cursos com as menores notas de corte da USP, são aqueles com maior inserção de alunos oriundos de escolas públicas, e não coincidentemente são os cursos com a maior taxa de evasão. Muitos alunos oriundos da escola pública por não possuírem o conhecimento adequado, por não terem tempo para os estudos, ou mesmo condições financeiras, acabam abandonando o curso.

Ou seja, as cotas podem ser úteis para garantir uma igualdade de oportunidade para o ingresso na universidade, mas essa política por si só não garante a permanência do aluno oriundo da escola pública. O ideal é que a política de cotas, seja acompanhada de outras políticas de permanência, como bolsas de estudo para que o aluno não precise trabalhar, aulas de reforço, e é claro, um contínuo investimento na educação pública de base.

Caso contrário, a política de cotas por si só não surtirá nenhum efeito além de aumentar a taxa de evasão, e até mesmo declinar a qualidade da universidade.

Enviada por José Carlos para Combate ao Racismo Ambiental.

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/por-si-so-sistema-de-cotas-nao-sera-eficiente

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