Estudantes que normalmente não teriam chegado à universidade relatam como viveram programas que ampliaram em 110% matrículas nas universidades, em uma década
Por Priscila Cardoso dos Santos, no Portal Aprendiz
[Título original: “Políticas de acesso ao ensino superior transformam o perfil da sala de aula”]
“O Brasil assistirá dentro de dez ou quinze anos o surgimento de uma nova geração de intelectuais, cientistas, técnicos e artistas originários das camadas pobres da população”.
Foi com estas palavras que o ex-presidente Lula tomou posse de seu segundo mandato, em janeiro de 2007.
A transformação citada pelo ex-presidente começa a ser vista nas salas de aula. De acordo com o último Censo da Educação Superior, entre os anos 2001 e 2010, houve um aumento de 110% no número de matrículas na graduação, chegando à marca de 6.379.299 inscritos.
Desses, 74% frequenta uma instituição privada e 26% estuda em alguma instituição pública. A média desse público é de 26 anos, sendo que os 25% mais jovens têm até 21 anos e a mesma proporção dos mais velhos tem até 40 anos. A maioria é do sexo feminino (57%) e está matriculado em cursos presenciais (85,4%).
Apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito. Os dados apontam que, entre os jovens brasileiros de 18 a 24 anos, apenas 14,4% está matriculado em algum curso superior. O Plano Nacional de Educação (PNE) previa que até 2010, cerca de 30% dessa população teria acesso ao ensino superior, o que não aconteceu.
O Censo revela ainda que as políticas de ingresso ao ensino superior não são suficientes para garantir que os jovens concluam os estudos. Dos 6 milhões de matriculados, apenas 15% receberam um diploma, sendo 80,42% oriundos de instituições privadas, 10% de universidades federais, 7% de estaduais e 1,76% de municipais.
Para o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Anísio Teixeira (Inep), responsável por analisar os dados, o desenvolvimento econômico observado nos últimos anos criou uma pressão por mão de obra especializada. A resposta para essa demanda foi a criação e ampliação de políticas de financiamento estudantil como Fies e Prouni e a criação de novas universidades federais e campi no interior do Brasil.
Para entender como esse processo de ampliação do acesso ao ensino superior tem acontecido na prática, o Portal Aprendiz foi conhecer três jovens moradores da cidade de São Paulo que passam por diferentes experiências universitárias.
Os novos intelectuais
Em 2007, Tais Telles (25), à época com 20 anos, foi selecionada para o curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Como parte das metas do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), a faculdade inaugurava um campus na cidade de Guarulhos (SP).
Naquele momento, a faculdade não dispunha de moradia para estudantes e foi por este motivo que Taís, ainda no primeiro semestre, abandonou o curso. Ela dividia o aluguel de uma casa próxima à faculdade com outros alunos, mas ainda assim tinha um custo de R$350 por mês.
Apesar das dificuldades, Taís não desistiu de cursar uma graduação. Prestou vestibular novamente em 2009, e em 2010 ingressou no curso de Geografia pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). Atualmente está no 4° semestre, recebe cerca de R$300 de auxílio estudantil e mora dentro do campus. “Mas a renda ainda não é suficiente”, declara a estudante que, para complementar a renda, dá aulas em um cursinho popular da região e é cabelereira nas horas vagas.
Enquanto isso, o mercado de trabalho
Leandro de Oliveira Martins (24) formou-se em 2011 no curso de Comércio Exterior pela Universidade Nove de Julho (Uninove), onde possuía bolsa integral pelo Programa Universidade Para Todos (Prouni). Durante a graduação, estagiou em um banco e chegou a abrir uma empresa de consultoria financeira com sua irmã, mas não teve muito sucesso.
Determinado a ser um profissional bem sucedido, Leandro retornou para o Cursinho do XI, organização sem fins lucrativos ligada à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), que oferece preparação para o vestibular. “Meu objetivo é estudar na USP”, revela o jovem que já foi aprovado nos vestibulares da Unesp e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no curso de Engenharia.
De olho na demanda que será gerada pela exploração da camada pré-sal, o jovem – que tem afinidade com as disciplinas de Exatas -, afirma que pretende cursar Engenharia Naval. “Acho que esse é um bom momento para esses profissionais.”
Leandro certamente irá juntar-se aos 202.398 estudantes que optaram por um curso nas áreas de produção, construção e engenharia, conforme indica o Censo de Educação Superior. O curso figura como o 4° mais procurado, perdendo apenas para pedagogia, direito e administração.
Professores da próxima geração
Com o sonho de ser professora, Diana Andrade (26) foi selecionada para o curso de pedagogia em 2006, com bolsa integral financiada pelo Prouni. Ingressou nas turmas de meio de ano da Universidade São Camilo, em São Paulo (SP) e concluiu em 2011.
A professora levou cinco anos para terminar um curso que tem duração de três. As dificuldades para dedicar-se à vida acadêmica fizeram com que ela trancasse a faculdade por um ano. “O mais difícil era conciliar trabalho e estudo”, afirmou.
Moradora do município de Carapicuíba, localizado na região metropolitana da capital paulista, Diana trabalhava no Jardim São Luís, na zona sul, e estudava na Pompéia, zona oeste, levando cerca de 4 horas para se deslocar. “Eu cumpria uma jornada muito exaustiva”, declara a jovem.
Embora tivesse tantas atividades, Diana buscou diversas formações paralelas. Para adquirir experiência com desenvolvimento e implementação de projetos, implementou ações com apoio da Lei de Valorização da Cultura (VAI), que financia projetos culturais desenvolvidos por jovens paulistanos.
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http://ponto.outraspalavras.net/2012/08/20/experiencia-de-tres-jovens-nas-universidades-depois-das-politicas-de-acesso-a-educacao/
Enviada por José Carlos para Combate ao Racismo Ambiental.