Até bazar educadores já realizaram para garantir alimentação dos estudantes
Jhonny Cazzeta
Pipoca, água, fubá e um pouquinho de couve. É esse o cardápio da maioria dos alunos das escolas municipais de Montes Claros, no Norte de Minas, após o retorno das aulas, na última segunda-feira. E, em muitos casos, a alimentação, mesmo que precária, só foi possível por causa do empenho dos professores, que até um bazar organizaram para garantir as refeições.
A prefeitura teve que cancelar o contrato com a Stillus Alimentação Ltda, que fornecia as merendas para 139 escolas da cidade depois que a Polícia Federal e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMF)deflagraram, em junho, a operação Laranja com Pequi. A ação desarticulou uma quadrilha que fraudava licitações. Na época, o recesso escolar teve que ser antecipado, também porque faltava comida.
“Fizeram corrupção e agora estão perdidos, sem saber como será daqui pra frente. A alimentação mais reforçada do dia da minha filha era a merenda. Agora, estou tendo que me virar”, afirmou um servente de pedreiro, de 46 anos.
Segundo a professora de uma escola no bairro Maracanã, a situação é desesperadora. “A variação aqui na escola é simples. Tem dia que é bolacha com refresco e outro que é água com pipoca. Não foi enviado nenhum mantimento nem explicações”, afirmou.
Um vídeo feito por um funcionário de outra escola mostra os alunos reclamando por não terem mais nada para comer a não ser uma sopa de fubá, água e couve.
Internet. O problema já foi parar nas redes sociais. Em um dos mais de 70 comentários sobre o assunto, um internauta faz menção à operação da Polícia Federal com os dizeres: “Sabe qual é o cardápio da merenda de hoje? Suco de laranja com pequi”. Uma mãe de aluno também se mostrou indignada. “Perguntei ao meu filho o que ele comeu durante as mais de cinco horas que esteve na escola. E ele me disse que apenas pipoca. Nem vendendo algo mais agradável eles estavam”, escreveu.
Ainda em uma rede social, a diretora de uma escola contou que “cada diretor está precisando usar a criatividade” e que ela, por exemplo, comprou comida com o dinheiro de um bazar que ela organizou antes mesmo do início das aulas, já prevendo o problema. A diretora vendeu as próprias roupas. “Estamos servindo suco de caju com engrossado de carne moída”, contou.
Outro lado. A secretária municipal adjunta de Educação, Telma Veloso, negou que as escolas estejam servindo fubá com água para os alunos. De acordo com ela, o que aconteceu foi a troca da refeição por um lanche (ela não descriminou os itens). Ainda segundo Telma, tudo voltará ao normal na semana que vem.
MPMG orienta que contrato seja cancelado
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) continua investigando a suspeita de fraudes em licitações e de superfaturamento em contratos entre a Stillus Alimentação, escolas e presídios mineiros. Na semana passada, o MPMG recomendou que o Estado não renove o contrato entre a Stillus e o presídio de Três Corações, no Sul de Minas. “É uma investigação minuciosa. Foi recomendado que a Stillus não seja mais contratada e outras recomendações podem acontecer”, alertou o promotor Eduardo Nepomuceno.
A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) disse que já tinha decidido cancelar o contrato da empresa com o presídio de Três Corações assim que o MPMG emitisse uma notificação do caso, como O TEMPO informou em julho. Porém, o órgão não soube informar se já recebeu o comunicado nem se o contrato foi cancelado. O contrato com outros presídios continua.
Sete pessoas foram detidas, mas liberadas, durante a operação. Apontado como o cabeça da fraude, o empresário Bruno Vidott está foragido e ainda é procurado pela polícia. (JC)
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http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=209976,OTE. Enviada por José Carlos.