Moradores relatam que só recebe água quem vota em político com carro-pipa
Dimmi Amora
A disseminação das cisternas no Nordeste ressuscitou nesta estiagem os carros-pipa, ícones da chamada indústria da seca, e com ele os chamados “coronéis da água”. Em várias cidades, moradores contam que a entrega de água obedece a critérios políticos: quem não vota no candidato que controla as pipas não recebe a água. “Aqui tem uma política desgraçada que tem gente que até desvia [água]”, relata Aldemir Coelho Neto, agricultor em Santa Cruz (PE).
O governo federal aluga 3.700 pipas para a região, controlados pelo Exército. São insuficientes. Quem pode, compra de particulares, que cobram entre R$ 120 e R$ 180. “Aqui perto tem um canal. Custava nada trazer um cano até aqui”, diz o caminhoneiro que pediu para não ser identificado. Ele recebe R$ 120 por corrida.
Cícero Félix, coordenador de uma ONG que trabalha com o conceito de convivência com o semiárido, afirma que “os novos e os velhos coronéis estão vendo a estiagem como uma forma de manter seus poderes com as distribuições assistencialistas.”
As obras anunciadas contra a seca, como a transposição do rio São Francisco, não foram concluídas. Faltam também adutoras, açudes, estradas, ferrovias e silos para a armazenagem de grãos. As cidades ainda não têm condições, sozinhas, de realizar as obras que dotariam os moradores de estrutura para enfrentar a estiagem. De cada R$ 100 que passam nos cofres dos municípios, R$ 6 são de impostos e taxas próprias, em geral os recursos com que se consegue fazer obras.
Medidas estruturais – A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, disse que medidas estruturais foram tomadas desde o governo passado para que a “a população possa enfrentar o fenômeno” da seca. “A ideia de caminhão enchendo balde de água nós revertemos com as cisternas”, afirmou Tereza.
Segundo a ministra, a garantia de renda para a população por meio dos programas de assistência – Bolsa Família, Benefícios da Assistência e Aposentadoria Rural – tem ajudado a garantir a alimentação das famílias. O Ministério da Integração Nacional informou que “o governo federal investe R$ 2,7 bilhões em ações para enfrentar e mitigar os efeitos da estiagem no semiárido”.
Segundo o órgão, 900 mil agricultores familiares serão atendidos por meio do Bolsa Estiagem e do Garantia-Safra. O órgão ainda afirma que R$ 184 milhões foram usados para a Operação Carro-Pipa.
http://www1.folha.uol.com.br/poder/1132359-estiagem-marca-volta-de-coroneis-da-agua.shtml