Enviado por José Carlos.
No samba de roda, existem muitas variações das cantigas, que recebem nomes diferentes a depender do local. Na Ilha, em Salvador e municípios próximos predomina o samba corrido e as influências urbanas. O samba chula característico, também chamado samba de viola e samba amarrado, se encontra na antiga região da cana que abrange Maracangalha, São Francisco do Conde, Terra Nova, Teodoro Sampaio, Saubara, Santiago do Iguape e principalmente Santo Amaro. Uma dupla de cantadores canta a chula e a outra dupla reforçada pelo coro das mulheres responde com o relativo – um verso menor que “arremata” a chula. Nessa hora, ninguém entra na roda para sambar, esperando os homens terminarem de cantar e começar a parte instrumental com solos de viola e da percussão. A sambadeira agora samba com passos miudinhos, “peneirando” e percorrendo a roda toda até dar a umbigada noutra sambadeira, que espera a próxima chula cantada.
As chulas são miniaturas poéticas que tratam dos assuntos da vida, contando pequenas histórias, relatando conflitos e as complicações da paixão, retratando aspectos do cotidiano e dando conselhos, alertas e “sotaques” para quem precisa ouvir. Os grandes temas cantados são ligados ao universo amoroso, ressaltando a visão do homem sobre a mulher, assim como sobre o próprio samba; os acontecimentos na roda; e o papel da viola, por estabelecer uma ligação forte entre os homens tocando e as mulheres sambando. Muitas chulas retratam a vida do trabalho na roça, no canavial, no mar e no mangue, às vezes com uma conotação do sofrimento, do “penar” que remete aos tempos da escravatura. Em contraste com o lado pesado da vida, estão as chulas lúdicas e eróticas, contando piadas e conselhos irônicos, pequenas parábolas, satirizando situações sensuais e tragicômicas da vida. Outro aspecto é a vida religiosa que se revela nas chulas que cantam os santos católicos e mais os orixás e os caboclos nas religiões afro-brasileiras, muitas vezes falando em metáforas.
Na outra margem do Rio Paraguaçu, nos municípios de Antonio Cardoso, Santo Estevão e Rafael Jambeiro, a chula é chamada de coco, e o corrido chamado de chula. O samba nessa região se caracteriza por ser um samba de desafio, cheio de riquezas poéticas que retratam o universo regional com sutileza, humor e variedade literária. Entre os sambadores antigos, samba é coisa séria, assunto de homens brabos que se desafiam com palavras afiadas e bem ritmadas, levando noites inteiras nessas disputas que renderam muitas lendas em toda região.