Aimorés ‘herda’ deserto após construção de usina no rio Doce

Foto: Leonardo Morais. Orlando Nunes da Silva anda sobre pedras onde antes passava o rio Doce: em vez da lâmina d’água, areia

Leito foi desviado para obra e, 7 anos depois, população reclama que espelho d’água continua só na promessa

Daniel Antunes – Do Hoje em Dia

AIMORÉS – O principal cartão-postal de Aimorés, o rio Doce, no sopé da pedra Lorena, há sete anos não é mais o mesmo. Para abastecer as turbinas da usina hidrelétrica (UHE) construída por meio do consórcio Cemig/Vale, parte das águas turvas do manancial foi desviada para um canal artificial. O resultado da manobra é um cenário de seca. Onde antes passavam corredeiras, restaram pedras e areia. Hoje, o local serve de ponto até para o consumo de drogas e a prostituição.

A mudança não agradou a população da pacata cidade, a 450 quilômetros de Belo Horizonte. Os moradores alegam que a promessa do consórcio de manter o espelho d’água nos sete quilômetros de extensão da calha do rio Doce, no perímetro urbano do município, foi descumprida. 

O caso é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF), em Governador Valadares, que instaurou procedimento para apurar as denúncias. “Não aceitaremos outra proposta a não ser a volta do rio como era antes”, diz o secretário de Desenvolvimento Econômico de Aimorés, Alfredo Martins, que integra uma comissão de representantes do poder público municipal e de entidades de classe.

A comissão surgiu em 2010, depois que a usina apresentou um estudo alegando que era inviável manter o espelho d’água na cidade, devido a irregularidades na formação da calha do rio.

Os 25 mil habitantes do município aguardavam a construção de pelo menos três diques em Aimorés para ajudar a reter a água do rio Doce. “Os diques faziam parte de uma maquete que nos foi apresentada, mas esse material sumiu. Nos sentimos enganados”, diz o secretário. “Não somos contra a usina, só buscamos o que perdemos”.

O documento enviado pela comissão ao MPF tem outras 41 reivindicações, que vão desde a construção de uma avenida na orla do rio Doce à realização de obras de saneamento básico. “São reclamações registradas em audiências públicas”, afirma Alfredo Martins.

No calçadão da avenida Florivaldo Dias de Oliveira, que segue o traçado do rio, moradores que deveriam contemplar corredeiras dizem ter saudade do manancial. O que predomina na paisagem são pedras.

Quando jovem, o aposentado Jandir de Souza Guilherme, de 67 anos, pescava no Doce. “Era bonito demais. Tinha muito cascudo e dourado. Roubaram o nosso rio”, desabafa.

Orlando Nunes da Silva, de 62, passeia entre as pedras que antes representavam perigo para quem se arriscava a nadar na forte correnteza. Agora, com a ajuda da mulher e de um filho, ele recolhe quilos de lixo do lugar, todas as semanas.

“O rio virou ponto de prostituição e de uso de drogas. O espelho d’água ficou apenas na promessa. Conseguiram acabar com uma das coisas mais bonitas de Aimorés”, diz Orlando, denunciando que a água acumulada entre as pedras colabora para a proliferação de pernilongos e mosquitos transmissores da dengue e da leishmaniose.

“O rio, que tinha cerca de 900 metros de largura, com vazão de 370 mil metros cúbicos de água por segundo, agora é apenas um filete com vazão de 30 mil metros cúbicos de água que vem do rio Manhuaçu, afluente do Doce”, diz Orlando, com base em dados da Agência Nacional de Águas (ANA).

http://www.hojeemdia.com.br/minas/aimores-herda-deserto-apos-construc-o-de-usina-no-rio-doce-1.454555. Enviada por José Carlos.

Comments (8)

  1. Nossa cidade não foi contemplada em nada com essa construção da barragem, só destruição. Nós fomos enganados com os diques que mostrava na maquete. Porque Resplendor e Ituêta foram as mais contempladas com essa usina?. Nosso rio virou uma boca de fumo, ponto de prostituição. Pra que mirante, pra ver pedras?. Queremos nosso espelho d’agua que foi prometido.

  2. Infelizmente Aimorés acabou fui criado dentro do rio minha infância foi dentro do rio brincava pescava era nosso lazer era a nova diversão descia o rio a baixo de boia do pontilhão até hospital era mil maravilhas era perfeito ..quanta vez passava pela beira do cas era de dia era atarde era de noite tinha pessoas pescando no rio .. infelizmente essa usina hidrelétrica não nos beneficiou em nada Aimorés já não tinha muito oque fazer agora com essa barragem piorou mas ainda o estilo de vida da População conheço esse rio como seu fosse irmão as vezes achamos que progresso irá nos beneficia em algo mas na verdade somos traindo pelos nosso próprio governo porque não fizeram essa barragem mas abaixo lá na divisa entre Aimorés e baixo guandu assim nos iria te uma mega lagoas iria te muita água ao nosso redor creio que isso não bem planejado bem elaborado pelos órgão público e por ae vai ….

  3. A legenda estava como publicada no jornal, Simone. Corrigi parcialmente, mantendo o nome como está escrito no corpo da matéria: Orlando Nunes da Silva. Não dá para sair corrigindo o jornal…

    Peço um favor a você, entretanto: considerando o teor do seu comentário, optei por divulgá-lo. Mas não liberamos comentários sem o sobrenome da pessoa…

  4. Ótima matéria! Gostaria apenas que corrigissem o nome da pessoa que foi fotografada para a matéria. O nome dele é ORLANDO DA SILVA NUNES.

  5. Pelo que me consta, Aimorés, atualmente, não é ligado a nenhum grupo étnico específico, portanto não configura características de racismo ambiental. O Grupo indígena Aymoré não mais existe, lá. E a redução da vazão do caudal do Rio não guarda nenhuma relação com a represa em questão. A influencia da represa é sério, mas apenas na cidade, ou seja, entre a Pedra Lorena e antiga Cachoeira do Raio, logo abaixo do Hospital de Aimorés.

  6. vc tem algum parecer deste fato hj,.? estou movendo um manifesto por redes sociais ,. e queria mais detalhes,. estomos juntos no que precisem,. mto obrigado , George kleyttom,. cidadaõ aimoreense, atulmente em BH.;

  7. parabéns pela materia,.! Fico triste em ver o rio Doce sangrando entre pedras na minha querida aimorés,.! Srs Governantes desta cidade ,. cobrem as autoridades competentes uma soluçaõ para este desastre ecologico que a Hidreletrica deixou para nos,. Museu Histórico de Aimoréseenses,.! já é hora,.!! compartilhem este manifesto,.! é uma absurdo é uma falta de respeito com os aimoreenses,.!

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