Tupinambás resistem no Sul da Bahia

Desalojados de suas terras pela Polícia Federal, no início de fevereiro, eles iniciam um movimento de resistência.

Pela Comissão Organizadora do Seminário de História Indígena Caboclo Marcelino

Em 11 de fevereiro, realizamos o Ato de Apoio aos Tupinambás no Acuípe – divisa entre Ilhéus e Una, Bahia. Lembrando: aquela comunidade indígena foi expulsa com violência e preconceito de suas terras tradicionais (01/02/2012) pelo estado, justiça e policia federal. Segundo os relatos, os policiais foram agressivos com crianças, anciãos, mulheres e homens. De acordo com as narrativas, os que efetuaram a ação humilharam um dos pajés da comunidade Tupinambá, deixando o mesmo de joelhos na lama e com as mãos na cabeça por cerca de duas horas. Os invasores satirizaram o Porancy – ritual sagrado – que foi realizado pela comunidade durante a invasão.

Esta invasão (alguns chamam de “reintegração de posse”) quebrou um acordo que não haveria ações como esta em terras indígenas retomadas de longa data (com no mínimo dois anos de ocupação), até o julgamento do relatório da FUNAI que demarcou as terras Tupinambá. Aliás, o relatório é de 2009 e até agora a justiça federal não julgo o mesmo, aumentando o clima de tensão em Olivença e região. Parece que não existe interesse político e social daqueles que detém o poder no estado da Bahia e no governo federal. Isso significa que todo o povo Tupinambá, além de sofrer com o processo de criminalização, preconceito e violência policial, agora também fica com receio do estado e da justiça porque, a qualquer momento, novas reintegrações podem ocorrer.

Durante o Ato de Apoio aos Tupinambás que realizamos no dia 11, antes de levarmos os alimentos recolhidos à Comunidade Indígena que encontra-se “acampada” no entorno e no núcleo escolar localizado no Acuípe (Escola Estadual Indígena Tupinambá-EEITO), o Cacique Val circulou com os presentes nos lugares onde a policia federal efetuou a invasão. Ouvimos relatos da ação e observamos o resultado da ação policial, conforme iremos apresentar na sequência.

 

O quadro que observamos lembra muito a política de terra arrasada adotada pelas tropas nazistas na II Guerra Mundial e pelo exército norte-americano nos territórios invadidos no Afeganistão, Iraque e em outras nações. A ação adotada no Acuípe foi de expulsão com violência, preconceito em relação aos índios. Em seguida a policia federal ordenou e destruição das moradias, criações e plantações. Os tratores a mando dos policiais destruíram casas não deixando tempo, por vezes, para as pessoas tirarem todos seus pertences ou parte do material utilizado para a construção.

O Cacique Val nos mostrou uma serie de moradias destruídas, uma fábrica de farinha de mandioca arrasada, roçados danificados e/ou em estado de abandono por não ser possível mais cuidar do plantio. No lugar onde ficava a fábrica de farinha até o galinheiro foi destruído e encontramos o esqueleto de um cachorro de caça da comunidade indígena morto durante a ação realizada.

A ação foi clara: destruir tudo para que os Tupinambá não voltassem. Atualmente parte daquela Comunidade reelabora suas vidas, resistindo cotidianamente no e entorno do núcleo escolar do Acuípe da EEITO (Escola Estadual Indígena Tupinambá). Lá o quadro é: pouco espaço para muita gente – o lugar não é adequado para moradia; alguns índios estão sob as lonas; e, além disso, logo iniciam as aulas, sendo necessária a saída daqueles que foram expulsos de suas terras.

Sabemos que muitos não gostam de utilizar adjetivos nos textos para manter a frieza de suas narrativas, mas, neste caso e em vários outros, não tem como não dizer: maldade pura do estado brasileiro (governo federal e estadual da Bahia), da justiça e policia federal. Por isto novamente escrevemos: não importa só o partido que está no poder (seja ele na Bahia, em São Paulo, em Brasília), pois as ações autoritárias se repetem por este país a fora.

Entretanto, pensamos aquela maldade não foi casual. A crueldade estatal adotada é ideológica e histórica porque sempre se direciona: aos índios, negros, mestiços, pobres rurais/urbanos. Uma maldade que procura criminalizar, humilhar, amedrontar, destruir e arrasar.

Porém, durante o Ato de Apoio que realizamos no dia 11/02/2012 sentimos que a comunidade tupinambá no Acuípe não foi derrotada. Ela resiste e reelabora a vida, para que a luta pelas terras tradicionais continue. Você observa isto nas caras dos anciãos, curumins, cunhatãs, guerreiras e guerreiros tupinambá daquela área e por toda cidade de Olivença.

Um Porancy será realizado. A Comunidade Indígena irá dançar pisando forte no chão e cantando bem alto para que os encantados e espíritos ofereçam força. Esta pisada e cantoria durante o Porancy também irá ecoar em alto som nos ouvidos dos que estão no poder não os deixando dormir para todo o sempre. Os Tupinambá cantaram

Oh… devolvam nossas terras
Nossas terras nos pertencem
Devolvam nossas terras
Nossas terras nos pertencem

Nelas torturaram, mataram e enterraram
Nossos parentes
Nelas torturaram, mataram e enterraram
Nossos parentes

Oh, devolvam nossas terras
Nossas terras nos pertencam

(Canção guerreira tupinambá)

http://rede.outraspalavras.net/pontodecultura/2012/02/17/territorio-tupinambas-resistem-no-sul-da-bahia/

Comments (1)

  1. sou tupinambas de olivença e acho uma vergonha o que as autoridades brasileira fazem com o seu povo… toma as terra dos nativos, para da aos gringos.

    sou tec.em meio ambiente pelo: COEDUCA/UNICAMP-SP e gostaria de ter uma oportunidade de trabalhar com meu povo… por isso estou a procura de parceiros que queram me adotar, para juntos trabalharmos pelos + necessitados

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.