Gil Quilombola, Inaldo Serejo, Diogo Cabral
No dia 07 de fevereiro de 2012, 90 dias depois do cruel assassinato do camponês Delmir, não havia Inquérito Policial para apurar o crime.
Delmir Silva, 57 anos, quilombola, residia no Povoado Portinho, na companhia de sua irmã, Celina Silva. Ambos moravam anteriormente na comunidade Veneza, dentro das terras da antiga fazenda Santo Antonio de Cruz, hoje em processo de reconhecimento como TERRITÓRIO QUILOMBOLA. As terras da comunidade Veneza são requeridas pelo Sr. Carlos Alberto, ex-policial (conhecido como Bebeto) residente na cidade de Cururupu – MA, que, há alguns anos, segundo relatos de moradores, começou a proibi-los de usufruírem dos recursos naturais e de continuarem botando suas roças. A própria Celina saiu da área desgostosa porque Bebeto proibiu o seu marido (já falecido) de fazer roça. Assim como ela, outras famílias “saíram” da terra.
A senhora Celina Silva, depois do assassinato do seu irmão, ouviu dizer que Bebeto teria determinado ao senhor Marçal – encarregado das terras de Veneza – que lhe tomasse a madeira e as palhas de babaçu que ela tirara para fazer uma casa em seu quintal. Ainda, que ela continuava fazendo roça em suas terras porque não tinha vergonha.
Delmir Silva foi morto cruelmente no dia 07 de novembro de 2011. O seu corpo foi encontrado por volta das 23h30 do mesmo dia. Estava deitado sobre raízes num igapó, próximo à sua roça. Tinha a cabeça quebrada, a perna direita quebrada, a perna esquerda desnucada, uma mordida no nariz e uma mordida na mão (os ferimentos indicam que pode ter havido uma luta corporal e que ele foi morto por mais de uma pessoa). Pelo estado do corpo, tudo leva a crer que ele tenha sido morto antes das 12h daquele dia. A família comunicou o fato imediatamente aos policiais de plantão, em Serrano do Maranhão, que se deslocaram para o povoado Portinho, onde estava o corpo, acompanhados por uma enfermeira que atestou a morte, conforme Exame Cadavérico, assinado no dia 08 de novembro de 2011, pelo médico José Carlos Marques CRM – MA 1767 e pela enfermeira Conceição de Maria Corvelo Passos COREN 167135.
A senhora Celina Silva não sabe precisar as datas, mas disse o seguinte: “Eu fui ao Serrano, não encontrei o delegado, só estava um policial que não lembro o nome, ele ligou para a delegacia de Cururupu e o delegado disse que a polícia estava em greve, mas que na outra semana iria resolver tudo. Na segunda vez, falei com o policial Erinaldo; ele me deu o exame cadavérico e a transferência da ocorrência para Cururupu, e me falou que Bebeto tinha saído de lá um dia antes e que tinha ido buscar sua ocorrência. Cheguei a Cururupu, não encontrei o delegado; falei com o escrivão, que ficou de conversar com o delegado quando chegasse”.
Em seguida, ela foi encaminhada para a Delegacia de Bacuri que a reencaminhou para a Delegacia de Cururupu, conforme Encaminhamento assinado por Sebastião Porfírio da Anunciação, Delegado de Polícia Civil do município, no dia 21 de dezembro de 2011.
Ela voltou à Delegacia de Cururupu no dia 07 de fevereiro de 2012, quando foi ouvida pelo Delegado Danilo Veras e quando foi instaurado o Inquérito Policial para dar inicio às investigações. Mas, segundo o delegado, esse é um crime de difícil elucidação devido a falta de provas materiais e o tempo transcorrido depois do ocorrido.
Até o dia 07 de fevereiro de 2012, sobre o HOMICÍDIO de um CAMPONÊS havia apenas: uma GUIA DE REQUISIÇÃO DE EXAME MÉDICO LEGAL; um EXAME CADAVÉRICO; uma CERTIDÃO DE OCORRÊNCIA, do dia 15 de dezembro de 2011 e um ENCAMINHAMENTO DA DELEGACIA DE BACURI.
http://blogflordosertao.blogspot.com/2012/02/de-pilatos-herodes-quem-fara-justica.html
Enviada por Leila Santana.