Por José Paulo Lanyi*
Itália – O imigrante africano insistia: “Existe racismo na Itália!” O repórter florentino anotava com ar de reprovação. O senegalês subia o tom: “A Itália é um país racista!” O jornalista meneava a cabeça para os lados e fazia cara de desagrado. “Como assim, racismo na Itália? Você diz que a Itália é um país racista. Por que você diz isso?”, reagia o repórter, inconformado. O africano explicava. O seu interlocutor discordava com uma ênfase de chamar a atenção. De férias em Florença, eu mesmo presenciei esse diálogo no entardecer do dia 13 de dezembro.
Poucas horas antes, um maluco fascista matara e ferira imigrantes negros na cidade. Originário de Pistoia, o escritor Gianluca Casseri abrira fogo contra senegaleses que vendiam roupas e bolsas na Praça Dalmazia. Depois de acertar quatro deles, entrou no carro e foi para o Mercado de San Lorenzo, local em que trabalham muitos imigrantes. Lá, ele atirou em mais dois africanos. No total, seis pessoas foram atingidas. Dessas, duas morreram. Em seguida, Casseri se suicidou com um tiro na garganta.
Quando souberam dos crimes, dezenas de senegaleses saíram pelas ruas da cidade para protestar e foram agredidos pela polícia na Praça da República. “Em Florença nunca havia acontecido algo assim, tão grave. A polícia reagiu, foi com um aparato pesado”, testemunhou a jornalista brasileira Kátia Lôbo Fiterman. “Os senegaleses estavam desarmados, desesperados, mas não eram violentos. Eles falam alto, gesticulam muito, são altos, fortes, e os italianos veem esse comportamento como agressivo, quando na verdade os africanos muitas vezes só estão conversando. Foi pancadaria mesmo, a polícia bateu, os africanos apanharam sem reagir”, diz ela. “E nenhum jornal deu isso.” Não é de se estranhar que não tenham dado, a julgar pela recusa acintosa daquele repórter de avaliar uma crítica que está longe de ser absurda, conhecendo-se minimamente a cultura e a história da Europa. (mais…)
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