O explorador espanhol Diego Cortijo conseguiu fotografar, no dia 16 de novembro, um grupo da comunidade indígena isolada mashco-piro. “Foi pura causalidade”. Cortijo, de 27 anos, dirigia uma expedição arqueológica na selva peruana da Sociedade Geográfica Espanhola. No caminho para alguns lugares, a equipe decidiu passar a noite na cabana de Nicolás Flores, Shaco, na região de Manú, ao sudeste do país. Este índio matsigenka ficou vários anos em contato com a comunidade nômade.
A reportagem é de Marie Mertens e está publicada no jornal El País, 01-02-2012. A tradução é do Cepat.
Na manhã seguinte, “Shaco ouviu um ruído. Estavam-no chamando. Aproximamo-nos do rio Mãe de Deus e, na parte frontal da costa, a uns 100 metros, encontrava-se um grupo de mashco-piro”, recordou Cortijo. Nos “poucos minutos” que os indígenas permaneceram “tranquilamente sentados”, o jovem explorador fez várias fotografias. “Shaco nos disse que queriam facões. Entendíamos porque sua mulher falava ‘piro’, uma língua similar a dos mashcos”, explicou. Seis dias depois, uma flexa dos indígenas causou a morte de Shaco.
“Parece que há divisões entre os mashcos em relação ao contato com o exterior. Pode ser essa a razão de haverem matado Shaco. Porém, é impossível saber com certeza”, assegura o jornalista e escritor Scott Wallace. Autor de “The Unconquered” (Os não conquistados), ele explica que os mashco procedem da mesma área em que aconteceu, em 1894, o massacre que inspirou o filme “Fitzcarraldo”, de Werner Herzog. O seringueiro peruano Carlos Fermín Fitzcarraldo reprimiu brutalmente as comunidades indígenas que se opunham às suas atividades comerciais. Então, segundo Wallace, os mashcos se refugiaram em “áreas distantes e de difícil acesso”. O fotojornalista estadunidense assegura que “é muito provável” que alguns grupos dos “centenários” mashcos, que vivem nessa área, queiram restabelecer contato com outras populações. “Porém, têm medo. E com razão”.
Os especialistas consultados concordam que os mashcos são nômades, que vivem em grupos, e que seu isolamento é voluntário. Desconhece-se sua cultura. Spooner aponta, não obstante, que o facão que se observa na fotografia de Cortijo está adornado com o dente de uma capivara, um roedor sul-americano. Segundo a pesquisadora, a ONG divulgou as fotografias cedidas pelo espanhol para “pressionar o governo peruano para que insista na interrupção da exploração ilegal do corte de madeira”.
Survival Internacional garante que, além da exploração ilegal de madeira e da extração de hidrocarbonetos, os indígenas enfrentam um novo perigo: o tráfico de drogas, que utiliza helicópteros e ocupa terras para cultivar coca.
Gabriella Galli, simpatizante italiana de Survival, também fotografou os mashco-piro. Galli realizava um roteiro de observação de aves, quando do seu barco viu os indígenas. A imagem foi feita de um barco e não houve nenhum contato, segundo a Survival. A autora das imagens não quis falar com a imprensa.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506343-um-povo-indigena-do-peru-luta-por-seu-isolamento-na-selva