Desocupação da área, prevista para 6 de março, pode deixar 700 famílias desabrigadas. Moradores temem violência, como ocorreu em São José dos Campos
Por William Galvão, Do Visão Oeste
Está prevista para dia 6 de março a desocupação da favela da área da Savoy, no Jardim Tonato, em Carapicuíba. A decisão judicial pode deixar cerca de 700 famílias desabrigadas.
A comunidade teme ação violenta da Polícia Militar como na retirada dos moradores da comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos (leia abaixo).
O terreno tem 60 mil metros quadrados ocupados pelas famílias e pertence a uma das maiores construtoras do Brasil, a Savoy. Segundo moradores, o aviso da reintegração chegou à comunidade no dia 25 de janeiro.
“A gente mal sabe o que está acontecendo. A maioria das pessoas não tem para onde ir. Muita gente não tem como arrumar um lugar em tão pouco tempo”, afirma o ajudante geral, Deivison Freitas, de 22 anos, que mora no local com a esposa e o filho há quatro anos.
A construtora já tentou a desocupação em outras ocasiões. A última delas em março de 2010, barrada por uma liminar. Em 2008, a Polícia Militar chegou a iniciar a ação, derrubando alguns barracos, mas a operação não foi concluída.
“Eles [os policiais militares] nos trataram como lixo, com agressão, nos xingando, sem o menor respeito”, reclama um dos moradores da comunidade.
A atendente Letícia Santos, de 18 anos, mora na comunidade com a mãe, os seis irmãos e o filho. “A gente não tem como pagar aluguel. Só eu e minha mãe trabalhamos. O que a gente faz é ir às reuniões com a prefeitura e torcer para que não nos tirem daqui.”
Sem dormir
A dona de casa Maria José Ferreira, 33, cuida das duas filhas, uma de sete meses e outra de cinco anos, enquanto o marido, Daniel dos Santos, 33, trabalha para sustentar a casa. “Tem dia que a gente nem consegue dormir, preocupados com a desocupação.”
A dona de casa Itamildes da Paz Cardoso, 62, mora no local com o marido, Gonçalo Messias Cardoso, 73, desde 2003. “Antes neste terreno havia mortes e estupros. Hoje em dia é bem tranquilo, mas querem tirar a nossa paz”, lamenta.
Área pode ser comprada pelo DAEE
Desde 2005 há tentativas de negociar com a Savoy para que o terreno não seja desapropriado. Em março de 2010, numa negociação conduzida pela prefeitura, uma rede de hipermercados se interessou pela compra do terreno – maior do que a área ocupada pelas famílias – por R$ 6 milhões e afirmou que se comprometeria a manter as famílias na parte ocupada. Mas a compra não chegou a ser concluída.
Agora, uma proposta pretende que o governo do estado adquira o terreno por meio do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE).
A ideia, segundo o deputado estadual Isac Reis (PT), é que no terreno seja implantado um projeto habitacional para as famílias que vivem no local além de outras 250 que hoje moram no entorno da Lagoa de Carapicuíba e terão de sair de lá por causa do aterramento da Lagoa. “O governo do estado tem de ter responsabilidade habitacional”, diz Reis.
Reunião
Na terça-feira, o prefeito de Carapicuíba, Sergio Ribeiro (PT) e Isac Reis participaram de uma reunião com representantes da Savoy e o Secretário de Estado da Habitação, Silvio Torres, para tratar do assunto.
Segundo Reis, quatro propostas foram apresentadas. “A mais provável é a de que o terreno seja comprado pelo DAEE”, disse. A expectativa é de uma resposta da Secretaria nos próximos dias.
“Não queremos que aconteça aqui o mesmo que aconteceu em São José dos Campos. As autoridades daqui estão se esforçando para um final feliz, diferente do prefeito Eduardo Cury (PSDB), que não fez nada para impedir a desocupação”, diz o deputado.
A ação violenta em São José dos Campos
Na comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos, a ação de desocupação pela Polícia Militar do Estado de São Paulo teve início no dia 22 de janeiro e foi finalizada na noite do dia 25.
Foram despejadas 1,6 mil famílias. Muitas não tiveram sequer tempo para tirar os pertences de seus barracos.
Quase dois mil policiais participaram da operação, que fez uso em larga escala de munição não-letal e bombas de gás lacrimogêneo.
A presidente Dilma Rousseff classificou a operação como “barbárie”. O líder do MST, João Pedro Stedile, disse que ação foi uma “arapuca para dar a lição de que pobre não tem direito à luta”.
De fato, já existia uma negociação em curso, além de uma decisão da Justiça Federal desautorizando a reintegração.
Só depois das críticas à forma truculenta com que a questão foi tratada, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury (PSDB), anunciaram a construção de 5.000 moradias e o repasse de aluguel social para auxiliar os ex-moradores. O prazo para a construção é de 18 meses.
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