Indígenas do Panamá dizem que só negociarão com governo após fim da violência policial

Rodovias foram bloqueadas em protesto contra exploração mineral e hidroelétrica

Fillipe Mauro

Indígenas panamenhos anunciaram nesta segunda-feira (06/02) que só iniciarão um diálogo com o governo a partir do momento em que a violência policial e a perseguição da comunidade indígena por autoridades cessarem. Uma pessoa morreu desde o início dos protestos.

Os conflitos entre indígenas e autoridades teve início no dia 31 de janeiro, quando mais de 50 organizações populares protestaram contra a decisão do Parlamento panamenho de permitir a exploração de cobre e a construção de hidroelétricas na comarca Ngäbe Buglé. Os manifestantes bloquearam com árvores e pedras várias vias do país.

Os indígenas exigem a liberação dos detidos e atenção médica para os feridos durante os protestos. Um homem foi baleado durante os confrontos e não resistiu aos ferimentos. Imagens publicadas hoje pelo jornal panamenho La Estrella levantam a suspeita de que o autor dos disparos tenha sido um policial.

Essas denúncias foram reforçadas pelo sacerdote Carlos De La Cruz, que revelou à imprensa cápsulas de projéteis. O ministro de Segurança Pública, José Raúl Mulino, negou as acusações e argumentou que “as unidades só contam com equipamento para controle de multidões e não armas letais”.

No último sábado, os líderes indígenas haviam concordado em negociar o desbloqueio de rodovias do país com o governo do presidente Ricardo Martinelli. O diálogo se daria entre as cidades de San Lorenzo e David, na parte oeste da província de Chiriquí.

Autoridades do governo, contudo, não compareceram. Em declaração à Agência France Presse, o ministro de governo Jorge Fábrega disse que “o convite é que suspendam o bloqueio que está causando muito prejuízo aos panamenhos e aos estrangeiros e que venham à Presidência”.

“É óbvio que ninguém quer um enfrentamento, mas também não podem eternizar uma situação de irregularidade como a que mantém”, acrescentou Fábrega. “Vamos propor [uma alteração] da lei que não haja mineração na comarca e que os indígenas decidam se querem alterá-la depois”, disse Martinelli, que ameaçou na última sexta-feira (03/02) tomar “decisões” caso os indígenas rejeitassem o diálogo.

Para o chanceler Roberto Henríquez, proibir o desenvolvimento hidroelétrico na principal região hídrica do Panamá significa ”impedir o desenvolvimento”. Entre os pontos bloqueados está a fronteira entre Panamá e Costa Rica, o que coloca em jogo as relações comerciais entre os dois países.

Embora o Panamá não possua exército, as lideranças indígenas alegam que as zonas em conflito foram “militarizadas”.

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