Com medo da violência, jovens ficam “internados” em casa

Online. Marcus Vinícius, 13, passa grande parte do sábado e do domingo "navegando" ou jogando; ele considera o tempo em casa normal

Pesquisa. Entre 8.500 adolescentes de 13 a 17 anos, 44% passam o fim de semana reclusos ou saem pouco. Evitar a convivência pode ser indicativo de outras questões mais preocupantes

Andréa Juste

É comum ver crianças e adolescentes ansiosos, esperando a chegada do fim de semana, para ir ao clube ou encontrar com amigos. Entretanto, cerca de 44% dos jovens brasileiros não têm esse perfil e preferem passar o sábado e o domingo todo em casa ou sair só de vez em quando.

Os dados são da pesquisa feita pelo Portal Educacional, entre maio e agosto, com 8.500 jovens entre 13 e 17 anos, de escolas particulares do país. Segundo o estudo, quase 14% dos participantes dizem ficar “internados” em casa no fim de semana, comportamento que pode ser justificado pela violência nos grandes centros urbanos.

Segundo a psicóloga Márcia Stengel, professora da PUC Minas, a insegurança é o fator mais relevante: “Não sei até que ponto a violência impede os meninos de sair, mas, com certeza, é uma preocupação dos pais, uma forma de segurar essa ‘moçada’ dentro de casa”.

Além desse medo, o estudo aponta que as distâncias, o trânsito, as escassas áreas de lazer e a facilidade de ter o mundo às mãos pela internet ou televisão contribuem para essa “internação”.

Dos entrevistados, 29% passam pelo menos cinco horas por dia na frente do computador e 10% ficam mais de quatro horas diárias assistindo à TV.

Mesmo aliviada pelo filho ficar grande parte do fim de semana em casa, a advogada Carolina Fernandes Leite, 28, sente-se preocupada com o tempo que Marcus Vinícius, 13, passa usando o computador. “Sábado e domingo não tem controle. Fica na internet o dia inteiro”, fala. Segundo ela, mesmo quando a família vai para a casa de uma tia, o garoto escolhe passar maior parte do tempo em frente à tela.

O filho discorda. “Ela fala que fico muito tempo no computador. Mas acho que é normal o tanto que uso”, diz. Mas, segundo Carolina, até se os colegas do filho vão à sua casa, a atividade favorita dos garotos é o computador. “Eles ficam na internet, têm as namoradinhas em bate-papo”, diz, exemplificando o que fazem na rede.

Escolha. Márcia Stengel acredita que alguns desses adolescentes que escolhem passar o fim de semana em casa têm excesso de tarefas no dia a dia. “Há garotos com agenda atarefada (ao longo da semana), que ficam pouco tempo em casa, e também os que são mais caseiros”, afirma.

Entretanto, ela alerta que jovens com baixa autoestima podem querer evitar o convívio social. “Às vezes, ficar enfurnado pode ser um sintoma de algo que está acontecendo com ele”, afirma, indicando o bullying como exemplo.

O pedagogo Luiz Carlos Castello Branco Rena, professor da PUC Minas, comenta que o convívio social é fundamental para a formação das relações. “Um cuidado importante é verificar se esse recolhimento vem acompanhado de outras manifestações: depressão, agressividade, baixo apetite, sono em excesso, alcoolismo, dentre outros”, diz.

Segundo ele, os pais devem procurar saber se seus filhos estão satisfeitos com o estilo de vida que levam. “Uma boa conversa pode ajudar a entender os motivos que esse ou essa adolescente tem para se recolher”, orienta, indicando o acompanhamento de especialistas.

Alimentação
Estudo. O Portal Educacional constatou que muitos jovens fazem apenas duas refeições diárias e comem sempre na frente da TV ou do computador.

ANÁLISE
Internet e videogame nem sempre fazem mal

O tempo que os adolescentes dedicam às tecnologias muitas vezes leva os pais a ficarem preocupados. Mas, segundo o pedagogo Luiz Carlos Castello Branco Rena, quando usado com limites, o videogame pode favorecer o desenvolvimento dos jovens. “Determinados jogos exigem graus de concentração e agilidade de raciocínio que favorecem o desenvolvimento cognitivo”, diz.

Para a psicóloga Márcia Stengel, os adolescentes gostam de usar as redes sociais, para reforçar os vínculos presenciais. “O que antes fazíamos por telefone, como combinar saídas, agora é feito pelas redes sociais”, diz.

Por outro lado, ela sugere que os pais fiquem atentos se os filhos não estão deixando de fazer atividades para ficar navegando. “Uma pessoa que não consegue ter limite e não aceita o limite imposto pelos pais pode ter dificuldades de lidar com limites na vida, relações com pessoas, trabalho”, alerta. Para ela, cada família deve criar suas normas para o uso da internet.

Para garantir que o filho aprenda e não apenas use a internet como entretenimento, a advogada Carolina Fernandes Leite, 28, criou uma tarefa diferente e pede que Marcus Vinícius, 13, faça buscas sobre temas variados. “Cada dia invento algo para ele fazer e faço perguntas posteriormente. É uma forma de ele estudar”, conta. (AJ)

http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdNoticia=189031,OTE&IdCanal=7. [José Carlos]

Comments (1)

  1. Besteira!!!
    Em países com baixíssima taxa de violência urbana os jovens tamném ficam em casa, isso não tem nada haver com violência! e sim com a personalidade das pessoas, por que as pessoas precisam sair nos finais de semana se elas podem curtir o dia em casa? Esse pensamento é preconceituoso, se o jovem não se sente à vontade na companhia dos outros, gosta de ficar em casa, isso não é problema nenhum!

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